Colunas

A nossa Franca

Por Perpétua Amorim

Quando esse céu derrama sobre mim o seu azul, qualquer palavra dita perde o som. Qualquer sinal entre o céu e a terra é azul.

É o azul do céu Francano que você precisa conhecer.

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Nasceu e cresceu ribeirinha, vestida de azul, bailando sobre as margens de dois córregos e brincando de esconde-esconde entre as colinas. Fez-se mulher em todas as suas formas e nuances de fênix, desenhou trilhas robustas que permitiram e permitem dizer o quanto sua silhueta feminina colaborou com a jovem cidade de hoje.

Duzentos anos se passaram, mas as marcas deixadas por tantas mulheres continuam evidentes.

Ponto a ponto, milhares de mulheres francanas costuravam a história calçadista; seus nós, embebidos de suor e sonhos, percorriam o mundo anonimamente.

Outras tantas enfrentavam dores e desafios sob o comando de mulheres dedicadas ao bem comum e à caridade cristã de uma época de fé. Nas vestes brancas das freiras / enfermeiras e médicas do passado, havia lágrimas que contrastavam com a dedicação e o esforço pela vida.

Nas escolas, mulheres professoras dedicavam-se a educar os filhos dessa terra. Esmerando-se na língua mãe, orgulhosas por serem musicistas, poliglotas, exímias doceiras, bordadeiras e fiéis aos costumes de então, sempre atentas ao tapete de capim-mimoso que forrava o caminho rumo ao horizonte de cada aluno.

Na literatura, as mulheres escreviam suas próprias histórias e criavam tantas outras fictícias. Seus versos, muitas vezes, fugiam para as páginas de algum folhetim, até que a coragem de expor-se em palavras rompesse o tempo, avançando com força nas ondas do rádio e, a partir daí, todas as outras mulheres aprenderam a gritar em rimas, versos, canto, dança e palavras.

Faço parte desse universo e carrego comigo a certeza de que a nova geração de meninas saberá que, muito antes de a cidade ser o que é e representar o que representa, centenas de outras mulheres pavimentaram as ruas estreitas da vila dita do Imperador.

Mas que é nossa, e generosamente abraça quem chega, acolhendo quem fica.

Hoje, de mãos dadas com centenas de mulheres — escritoras, sapateiras, professoras, enfermeiras, motoristas, advogadas, médicas, donas do próprio corpo e de suas ideias — construímos uma nova Franca, ensinando à geração futura o quanto é importante lembrar que muito antes de nós vieram outras e que, depois de nós, virão outras; depois o sempre, sempre haverá uma Franca construída por todas.

Parabéns, Franca do passado, do presente e do futuro.

Perpétua Amorim é escritora e poeta da Academia Francana de Letras e da Academia Feminina Sul-mineira de Letras

Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia… escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.

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