A guerra cultural, que só um dos lados luta, não é guerra

Sexta-feira, dia 17, foi ao ar o último capítulo da novela ‘Vale Tudo’. Apesar do grande debate ser a trama ‘Quem Matou Odete Roitman?’, a novela é um exemplo da Guerra Cultural entre ‘esquerda’ e ‘direita’.
A bem da verdade, a ‘direita’ abdicou dessa guerra, então, há praticamente um monopólio da ‘esquerda’ nessa área.
No último capítulo da novela, Bartolomeu, um homem de idade parecido com um socialista dos anos 1960, fez um discurso inflamado e alinhado com o atual governo federal. Lógico que isso foi aproveitado pelo ministro da propaganda, digo, secretário de comunicação social, Sidônio Palmeira.
A política é feita, principalmente, de propaganda. Político é uma galinha que precisa mostrar o ovo que botou e esconder os que apodreceram. O presidente Lula e sua malta sabem disso como ninguém.
Voltando à novela, o personagem Marco Aurélio, um corrupto, saiu da cadeia fingindo péssima saúde e com uma tornozeleira eletrônica. Foi uma ótima ideia a caracterização do personagem, que ficou parecido com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, a novela deixou de lado causas atuais, como o desvio de dinheiro de aposentados do INSS, as empreiteiras suspeitas que contratam com o governo, a crise nos Correios e a infiltração do crime organizado nas altas camadas do poder.
Existe uma supremacia de visão política na área artística do maior canal de TV do país.
Mas, como a ‘direita’ pode se recuperar dessa surra que leva dia após dia na área cultural?
Acho que a primeira coisa é largar o tacape e pegar um livro.
A frase tem muitos significados, mas um dos mais importantes dói na carne de alguns ‘conservadores de direita’: abandonar o ‘australopithecus’ Jair Bolsonaro e passar a apoiar gente com traços mínimos de ‘sapiens’, que tenham coragem e competência administrativa. E cito nomes: Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado e Eduardo Leite.
Não espero que um leitor ‘esquerdista’ tenha chegado até aqui. Mas, se o leitor ‘direitista’ sobreviveu ao parágrafo acima, sigamos.
A ‘direita’ precisa ler livros, principalmente clássicos. Livros diversos e com as mais variadas visões de mundo.
Deveria ler ‘O Idiota’, de Dostoiévski. Livro que algumas livrarias colocaram ao lado de certos autores para etiquetá-los como tal, mas ignoram que ‘o idiota’ deste livro é uma pessoa com conceitos morais sólidos, honesto e simplório. É sobre a importância de ter princípios, mesmo que isso signifique se isolar de algumas pessoas.
Deveria dar uma olhada no livro ‘A Sangue Frio’, de Truman Capote, para compreender que a punição é necessária, mas um pouco de empatia faz bem.
Se enriquecer com ‘Sidarta’, cujo autor Herman Hesse afirma: “Escrever é bom. Pensar é melhor. A inteligência é boa. A paciência é melhor”.
Deveria se debruçar sobre Machado de Assis!
É obrigatório assistir com a família a ‘A Felicidade não se Compra’ (‘It’s a Wonderful Life’, 1946), que mostra a importância fazer o bem sem olhar a quem e, principalmente, a importância da fé.
Dedicar um tempo a ‘Os Melhores Anos de Nossas Vidas’ (‘The Best Years of Our Life’, de 1946), que tem uma das cenas mais emblemáticas sobre o que é um casamento, que passo a descrever:
A personagem Peggy diz para seus pais que os inveja, pois eles têm um casamento perfeito. Sua mãe a responde olhando para o marido:
“Ora, ’nunca tivemos problemas’. Quantas vezes eu já disse que te odiava e acreditei nisso do fundo do meu coração? Quantas vezes você disse que estava farto de mim; que estávamos acabados? Quantas vezes tivemos que nos apaixonar novamente?”.
Veja em ‘Como era Verde o Meu Vale’ (‘How Green Was My Valley, 1941) que o direito dos trabalhadores não se trata de comunismo, mas de bem-estar universal, é uma vitória de todos nós.
A época de ouro do cinema americano é realmente uma mina cheia de objetos valiosos.
O ‘direitista’ deveria incentivar os jovens mostrando que não precisa ser um burguês pseudorrevolucionário usando camiseta vermelha e fã de Guilherme Boulos para ser descolado. Que patriota não é ostentar bandeira dos Estados Unidos e Israel, mas defender nossa História e um futuro de desenvolvimento com oportunidades para todos.
Sim, a ‘direita’ está muito atrás na guerra cultural e arreganhar os dentes contra artistas não faz sentido.
Não é um jogo que se vira a curto prazo, mas a ‘direita’ deveria começar a jogá-lo, sobretudo, produzindo arte!








Excelente texto, Dollores! 👏🏻👏🏻👏🏻