8 de março: flores pra quê?

Por Soraia Veloso
O 8 de março chegou novamente e a mídia faz o quê? Matéria sobre flores!!! Sim, matéria mostrando que por causa da data as floriculturas estão movimentadas e bem preparadas para atender a clientela. Até o radialista avisa que é preciso correr na floricultura mais próxima. Me revolto. Não acredito no retrocesso. Flores? Não me dê flores no 8 de março!!! Me dê flores no meu aniversário; no dia das mães; em qualquer dia do ano – eu amo ganhar flores. Mas não no 8 de março. Mas não por causa do 8 de março. Esta não é uma data comercial – é uma data de reflexões e lutas.
Como ganhar flores se o mapa da violência apontou que em 2024, 1.128 mulheres foram assassinadas, vítimas de feminicídio – o crime por ser mulher. Marido, ex-marido, namorado, interessado, algum familiar. No geral, por um homem conhecido. Flores? Serão colocadas no túmulo.
Como ganhar flores se 500 gramas de café da própria região estão custando R$ 40; se os ovos estão mais caros; se uma lata de sardinha custa R$ 8; se 5 quilos de arroz chegaram a R$ 35; se um quilo de feijão custa R$ 10. E quem mais sofre com o custo de vida caro? As mulheres pobres, negras e periféricas, as mães solos, aquelas cujo dinheiro é contadinho e que são quase invisíveis neste sistema excludente. Flores pra comer?
Reconheço que as flores são importantes para a economia, geram empregos, garantem sustentabilidade e rentabilidade. Mas compreendam o simbolismo do 8 de março. Repito! Nada de distribuição de flores ou chocolate, tapete vermelho. Estudem. Simone de Beauvoir. Heleieth Saffioti. Ângela Davis. Lélia González. Sueli Carneiro. Eunice Paiva. Amelinha Teles. Margaret Atwood. Carolina Maria de Jesus. Djamila Ribeiro. Maria da Penha. Tatiana Machiavelli Carmo Souza.
Hoje é um dia de reverenciar a memória. Pelas que vieram antes de nós e lutaram para garantir nossos direitos, e por tantas que se foram precocemente como Marielli Franco, Margarida Alves, Ângela Diniz, Ana Carolina Tasso, Núbia Ribeiro. Claudia Silva Ferreira – ela que eu não conhecia quando morreu, mas lhe fiz uma promessa: você será lembrada.
Hoje é dia de luta por uma sociedade mais justa; pelo cumprimento das leis existentes; pela igualdade salarial; pelo acesso aos cargos de chefias; contra assédio moral e sexual; contra o racismo, sexismo, misoginia, opressão. Contra aqueles que querem nos calar.
As flores e a poesia ficam pra outro dia.
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PS: Faz 30 anos que mulheres se reuniram em PEQUIM para discutir direitos e políticas públicas. O que você acha que mudou desde então? Vamos conversar?