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101 anos da morte de Lênin e suas lições para a imprensa revolucionária

Datando 101 anos da morte de Lênin, hoje mais do que nunca se faz importante conhecer sua obra, para críticos e defensores, pois seu legado político e jornalístico é de proporção ímpar. Leia como o revolucionário organizou seus jornais

Hoje, no dia 21 de janeiro de 2025, marca-se 101 anos da morte de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lênin. Uma das figuras mais importantes da Social-Democracia russa (a social-democracia, na época, era comunista e revolucionária, tradição abandonada pelos partidos social-democratas), Lênin deixou um legado de impacto gigantesco para a classe operária mundial, sendo o arquiteto do Partido Comunista Russo, fundador da Internacional Comunista e líder da Revolução Russa de 1917. Além de ter se destacado como um dos maiores teóricos marxistas, sua contribuição mostrou como, na prática, a imprensa é o motor da revolução operária.

Lênin pôde, através de sua ação tanto prática quanto teórica no campo da política Russa durante seu período revolucionário, mostrar a enorme importância da publicação de um jornal para que um partido revolucionário possa levar adiante sua política e organizar a população em torno dos objetivos da revolução.

No contexto russo, a publicação de um jornal político de cunho revolucionário fez parte do amadurecimento político do marxismo no turbulento país, o que significou uma aproximação considerável dos jovens marxistas à classe operária russa, tudo isso em meio à grande repressão política da ditadura czarista. Os jovens saiam às ruas e panfletavam em fábricas, denunciando as condições precárias de trabalho da classe operária, atraindo a atenção dos trabalhadores russos.

Na fase de amadurecimento político do marxismo russo, jovens liderados por Lenin se aproximaram da classe operária em meio à repressão da ditadura czarista. Panfletando nas fábricas em condições desafiadoras, denunciaram as adversidades enfrentadas pelos trabalhadores.

Lenin fundou a União dos Sociais-Democratas de São Petersburgo, base para o Partido Operário Social-Democrata Russo e, posteriormente, para os bolcheviques. O ápice desse amadurecimento político foi a tentativa de publicação do jornal A Causa Operária, jornal que seria o primeiro jornal marxista da Social-Democracia Russa. Contudo, a polícia czarista, ciente do projeto, interceptou os revolucionários durante a entrega dos manuscritos, resultando na prisão da maioria da direção, incluindo Lenin, que foi exilado na Sibéria.

A obra “O que fazer?”, escrita pelo líder central da Revolução Russa, representa um marco crucial na evolução do pensamento leninista sobre o papel do partido comunista. Lançado em 1902, após a repressão ao primeiro congresso do Partido Social Democrata Russo em 1898, o livro aborda as tarefas e políticas necessárias para consolidar a social-democracia na Rússia.

O livro “O Que Fazer?” aborda diversas questões, incluindo a classe operária como combatente de vanguarda pela democracia, táticas concretas como agitação e propaganda partidária, a combinação da atuação clandestina e oficial da organização, e a importância de um jornal centralizador da militância. Esses elementos são cruciais para a organização de um movimento revolucionário capaz de enfrentar os desafios contemporâneos.

Lenin, prevendo de forma quase visionária o papel da classe operária russa como vanguarda global, destaca a necessidade de organizar um partido que reúna elementos conscientemente revolucionários.

Ele critica a tendência reformista presente na social-democracia alemã e francesa, liderada por Bernstein, que buscava transformar o partido revolucionário em um partido democrático de reformas sociais.

Ao combater o reformismo (tendência política que nega a necessidade de uma revolução para romper com o regime capitalista e, em sua época, semi-feudal), Lenin confronta três pontos defendidos por seus opositores: a liberdade de crítica e polêmica publica sobre assuntos internos do Partido, a ênfase exclusiva nas demandas econômicas e a subestimação da teoria na organização da prática revolucionária.

Ele argumenta que os verdadeiros social-democratas devem transcender o sindicalismo limitado, preparando-se antecipadamente, estudando a complexidade das situações sociais e respondendo de forma abrangente às questões políticas.

A atualidade de “O Que Fazer?” reside na necessidade contínua de um partido revolucionário, enfrentando desafios semelhantes aos descritos por Lenin. Assim como os reformistas do passado, os reformistas atuais buscam restringir a luta às possibilidades dentro do sistema capitalista, defendendo um gradualismo impossível.

Lenin destaca a importância da teoria revolucionária e da consciência política, afirmando que, sem ela, não há movimento revolucionário.

Ele critica a ideia de que a classe operária seja espontaneamente socialista, enfatizando a necessidade de uma direção revolucionária para guiar o movimento.

A importância de construir um partido revolucionário de trabalhadores é amplamente exposta na obra, destacando que a classe operária não alcançará o poder espontaneamente, mas sim por meio de uma organização revolucionária consciente.

A visão de Lênin sobre a imprensa e sua carreira jornalística se enquadram em duas correntes que surgiram na Europa entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Período em que ocorre o surgimento de diversos movimentos de massa, pela disseminação das ideias socialistas entre os trabalhadores e por revoluções, em meio a crises econômicas, disputas geopolíticas e guerras.

A primeira corrente inclui intelectuais de esquerda que atuaram como jornalistas e ativistas, reconhecendo a importância da disseminação de propostas políticas nos periódicos. Exemplos notáveis são Karl Marx, Friedrich Engels, Rosa Luxemburgo, Leon Trótski e outros.

A segunda corrente refere-se a intelectuais que não apenas praticavam o jornalismo, mas também teorizavam sobre a imprensa como um instrumento para informação, conscientização, agitação e propaganda contra o status quo.

Lênin, influenciado por Marx, abordou a influência conservadora da imprensa e destacou o papel crucial da imprensa revolucionária na difusão de ideias políticas. Ele acreditava que a luta revolucionária exigia um meio de comunicação para que o partido se manifestasse sobre questões sociais concretas.

A produção jornalística de Lênin, dividida em cinco fases, reflete sua evolução ideológica. Desde os textos iniciais que enfatizavam a organização do partido até a fase pós-revolucionária quando a imprensa passou a ser controlada pelo Estado soviético.

A entrada de Lênin no jornalismo ocorreu de forma contundente após um período na prisão e no exílio na Sibéria, em decorrencia da tentativa de publicação do jornal A Causa Operária. Em 1900, ele lançou o jornal Rabótchaia Gazeta, mas foi interditado pelo governo tsarista. No mesmo ano, deixou a Rússia para organizar um partido unificado e centralizado na Europa Ocidental.

O jornal A Causa Operária é o primeiro da Social-Democracia russa, marcando uma fase crucial na evolução política dos revolucionários. A tentativa de publicação, apesar dos obstáculos, ressaltou a importância crucial de um jornal na condução da política revolucionária.

Diante da repressão ao jornal A Causa Operária e ao Rabótchaia Gazeta, a direção do Partido Operário Social-Democrata Russo concluiu ser impossível liderar um partido revolucionário na Rússia naquele momento, optando por operar no exterior. Surgiu então A Iskra (A Faísca), publicação impressa na Suíça e contrabandeada para o território russo.

Lênin via o jornal não apenas como um meio de informação, mas como uma forma superior de agitação, capaz de concentrar o descontentamento político e alimentar o movimento revolucionário. Ele estabeleceu critérios rigorosos para a credibilidade do jornal, enfatizando a seriedade da informação, a interpretação marxista dos fatos sociais, a força da expressão e a necessidade de documentação competente.

A trajetória jornalística de Lênin reflete seu compromisso em usar a imprensa como uma ferramenta vital na organização e fortalecimento do movimento revolucionário socialista na Rússia.

Após a divisão do POSDR em duas facções durante o seu II Congresso — os bolcheviques, majoritários naquele congresso, e os mencheviques, minoritários nesta situação — estes últimos assumiram o controle do Iskra, apoiados por Plekhánov, um ex-membro da redação que rompera com Lênin, e conhecido antigo marxista russo (considerado pai do marxismo russo). Isso marcou a transição do “velho Iskra”, alinhado ao pensamento de Lênin, para o “novo Iskra”, de orientação menchevique, que se tornou contrário ao marxismo revolucionário. O jornal enfrentou censura na Alemanha, obrigando sua mudança para Londres e, posteriormente, Genebra, devido à repressão policial, semelhante aos desafios enfrentados pelos projetos editoriais de Marx.

Durante as mobilizações que precederam a Revolução Russa de 1905, Lênin reformulou a imprensa partidária, buscando torná-la um guia de ação para o proletariado. O jornal Vperiod, editado em Genebra de dezembro de 1904 a maio de 1905, preparou o terreno para a corrente liderada por Lênin no Terceiro Congresso e incentivou a insurreição. Após o fracasso da revolução, o Vperiod foi substituído pelo semanário Proletári, que se tornou o órgão central do partido.

Nos escritos posteriores, Lenin reformulou a função social da imprensa, reconhecendo a necessidade de adaptá-la às complexidades da transição para o socialismo. Ele defendeu uma imprensa soviética que abordasse questões econômicas imediatas e práticas, destacando os problemas do trabalho e se tornando um instrumento de “educação econômica das massas”. A imprensa bolchevique, sob a liderança de Lenin, continuou desempenhando um papel crucial na consolidação do partido e na orientação ideológica, ajustando-se às diretrizes político-ideológicas mais rígidas e enfrentando os desafios do período pós-Revolução.

Lenin via o jornal de uma organização revolucionária como a plataforma de transição entre teoria e ação, essencial para o sucesso da agitação e propaganda. Ele comparou a imprensa ao andaime de um edifício em organização, facilitando a comunicação entre grupos, distribuindo trabalho e observando resultados. Além disso, Lenin estabeleceu princípios fundamentais para a imprensa comunista, incluindo a educação das massas, a organização da classe operária e a propagação da linha programática. Suas ideias continuaram a influenciar as diretrizes editoriais dos Partidos Comunistas no século XX e XXI.

Em seu esforço para combater a predominância desmedida dos veículos de imprensa burgueses, Lenin advogou pelo “monopólio estatal sobre anúncios privados na imprensa” após a conquista do poder. Ele propôs que o Estado, representado pelos sovietes, tomasse controle de todas as gráficas e jornais, distribuindo-os de maneira equitativa. Essa medida visava priorizar os interesses da maioria, especialmente dos camponeses historicamente oprimidos pelos proprietários de terras e capitalistas.

As análises de Lenin sobre a imprensa durante o primeiro governo revolucionário refletiram as circunstâncias, contradições e desafios enfrentados. Em sua 8ª tese para o I Congresso da Internacional Comunista, ele criticou os monopólios e a influência dos capitalistas nos processos informativos e na imprensa. Para Lenin, a verdadeira liberdade de imprensa só seria possível em um sistema no qual os meios de produção da informação não estivessem monopolizados pelos capitalistas, ainda que enfatizasse a importância da liberdade de imprensa formal sob o Estado burguês. Ele enfatizou a necessidade de romper com o modelo da imprensa burguesa, transformando-a em um instrumento não mercantilizado, controlado pelo Estado em prol da igualdade e democrático.

Com o ressurgimento do movimento operário a partir de 1910, Lênin, vivendo na Suíça e na França, sentiu a necessidade de relançar um jornal partidário. Fundou o Zvezda e o Nóvaia Zvezda, ambos efêmeros, mas importantes para aprofundar temas sociais, debates ideológicos e promover a agitação nas fábricas. Lênin destacava a importância estratégica da imprensa revolucionária na conscientização da classe trabalhadora.

Em abril de 1912, os bolcheviques lançaram o jornal diário Pravda, marcado pela participação dos leitores e pela divulgação das condições de vida dos trabalhadores. A publicação foi alvo de intensa pressão policial durante a Primeira Guerra Mundial, resultando em punições, confiscos e multas, levando ao encerramento em julho de 1914.

O Pravda ressurgiu como órgão do Comitê Central em 1917, pouco antes da Revolução de Outubro. Embora Lênin não estivesse diretamente envolvido na redação, continuou a influenciar a orientação editorial. Durante a Revolução, abordou a questão da liberdade de imprensa, criticando a chamada “liberdade de imprensa burguesa”, mas ainda assim reivindicando-a como necessária para a imprensa proletária, como uma artimanha para favorecer os ricos. O jornal desempenhou um papel vital na divulgação de eventos e reivindicações operárias durante esse período tumultuado.

João Scarpanti

João Scarpanti é presidente do Partido da Causa Operária em Franca, militante da Aliança da Juventude Revolucionária, jornalista e graduando em História pela UNESP Franca. Defensor do trotskismo, luta pelo socialismo desde 2019.

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