Superlotação, falta de médicos, espaços inadequados: atendimento de saúde em Franca beira o caos

A Folha de Franca tem recebido diariamente dezenas de reclamações de francanos a respeito do serviço de saúde de baixa qualidade oferecido pelo município. Além da superlotação, das longas filas de espera, de espaços inadequados para atendimento de saúde (com bolor e mofo), têm sido registradas, também, reclamações com relação à higiene, ou melhor, falta de higiene, desses espaços.
Nessa quarta-feira, a redação ouviu o desabafo de mães que sofreram na fila de atendimento da UPA do Aeroporto. Entre elas está Nilza Simon. “Ontem eu estava lá com minha filha. Meus dois netinhos precisavam passa por atendimento. Ficamos das 12h até quase 18h esperando atendimento!! É muito tempo, muito sofrimento para as crianças. É desumano! Só depois que começaram as ameaças e chamaram a polícia é que atenderam”, disse ela.
Tão inconformada quanto, estava outra mãe, Michelle Santos, que enfrentou problemas no Pronto Socorro Infantil, que tem registrado sistematicamente lotação acima do normal e muitas queixas no atendimento. “Como pode essa situação? Está geral isso… é na Upa, é no PS Infantil, estive lá semana atrás e as crianças não tinham como usar o banheiro, se precisasse teria que esperar, vocês já viram criança conseguir esperar a boa vontade de alguém limpar os sanitários? Porque estavam cheios de vômitos das crianças passando mal, sem contar na demora do atendimento, e os médicos lá dentro tudo no zap; no Álvaro Azzuz também lotado. Só Deus mesmo, e ninguém toma nenhuma atitude”, reclamou.
A reportagem da Folha de Franca entrevistou a secretária de Saúde, Waléria Mascarenhas, por meio da assessoria de imprensa, para entender por que a Prefeitura não está conseguindo prestar um serviço de qualidade e o que tem sido feito para melhorar esse cenário terrível que tanto tem afligido os francanos (veja abaixo).
Outra queixa bastante comum entre os pacientes é o fato de haver poucos médicos atendendo em cada plantão. Na tarde de ontem, no quadro de escala da Upa do aeroporto constava o nome de apenas uma médica (veja na foto). Na Upa do Anita também é comum haver apenas um ou dois médicos atendendo, o que beira o ridículo, frente ao número de pessoas que aguardam por atendimento.

Diante disso, perguntamos quantos médicos são escalados para o plantão de atendimento do PS, do PS Infantil e das Upas. A Secretaria de Saúde informou que, em toda a rede de urgência do município são escalados, diariamente, a cada turno de 12 horas, aproximadamente, 32 médicos, mas não detalhou para qual serviço são alocados. Seja como for, diante do volume de reclamações e das filas quilométricas que se formam nos locais de atendimento, o número é claramente insuficiente.
A Secretaria informou que “não tem medido esforços” para melhorar o atendimento e, juntamente com isso, tem trabalhado a “conscientização da população”, para que as pessoas procurem as UBS quando o atendimento não for emergencial. O que, aparentemente, tem escapado à compreensão da Prefeitura e da Secretaria de Saúde, é que as pessoas que estão ficando horas e horas esperando por atendimento não o fazem por prazer ou porque preferem estar ali do que procurar a UBS. O fazem porque estão realmente sentindo-se mal, precisando de atendimento imediato. O surto de dengue que assola a cidade contaminou mais de 2 mil francanos nos últimos dias e todos sabem que os sintomas castigam o paciente que, por ter dores, fraqueza, mal-estar generalizado, precisa de atendimento. Confira, abaixo, a entrevista com a secretária de Saúde.
Folha de Franca – Vários pacientes têm se queixado de espera de 5 a 6 horas por atendimento, tanto nos PS’s. quanto nas UPAs, o que é absurdo. O que a Prefeitura tem feito a respeito?
Nos primeiros meses deste ano, os serviços de urgência e emergência do município têm registrado um aumento substancial na procura por atendimento, com picos de 3.400 atendimentos realizados, em um único dia no Pronto-Socorro Adulto, Pronto-Socorro Infantil, UPAs do Aeroporto e Anita.
Com isso, a Secretaria de Saúde não tem medido esforços para redimensionar as equipes médica e de enfermagem para atender esse aumento da demanda, porém há casos em que é necessário conciliar a agenda com os profissionais, pois possuem também contratos de trabalho com outras instituições.
Do mesmo modo, a Prefeitura tem trabalhado, diariamente, a conscientização da população, no sentido de que tratando-se de sintomas leves, e não caracterizados como casos de necessidades de intervenção imediata, os pacientes procurem o pediatra e o clínico geral nas Unidades Básicas de Saúde, onde podem ser avaliados e acompanhados com o profissional mais próximo de sua residência.
Folha de Franca – Oriente por favor, que tipo de atendimento é feito em cada uma das unidades de saúde PSs, Upas e UBSs – para que a população saiba qual unidade procurar
Os Prontos-Socorros e UPA’s são unidades de urgência e emergência, caracterizados como serviços de “porta aberta”, onde realizam o atendimento de demanda espontânea, através de classificação de risco pela equipe de enfermagem. São unidades responsáveis por atendimentos clínicos de natureza mais grave e que não podem aguardar pelo atendimento ambulatorial agendado.
Já as UBS’s são unidades de saúde, que possuem em seu corpo clínico, o Médico de Saúde da Família, Pediatra, Clínico Geral, além de demais profissionais de saúde, que compõem a equipe multiprofissional, como psicólogo, dentista, assistente social, fonoaudiólogo, enfermeiro e agente comunitário de saúde. São prestados serviços ambulatoriais, agendados em que os profissionais realizam todo o acompanhamento do paciente.
Folha de Franca – Franca vive um surto de dengue. O que a prefeitura está fazendo a respeito? Existe uma força tarefa de combate em ação?
A Prefeitura intensificou o trabalho de campo dos agentes da Vigilância Sanitária, junto aos bairros de maior incidência de dengue, e tem dado publicidade para que a população tenha consciência da importância das medidas de prevenção para eliminar os focos de água para impedir o aparecimento de larvas do mosquito Aedes Aegypti.
Além de ações intersetoriais desenvolvidas com a Secretaria de Meio Ambiente para a limpeza urbana, visando evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti. Podemos citar como exemplo, as edições do Projeto Arrastão da Limpeza.
Folha de Franca – Quem tem sintomas de dengue deve procurar qual unidade?
Os casos em que os sintomas são leves, os pacientes podem procurar por atendimento nas Unidades Básicas de Saúde. Já os sintomas mais graves, como febre persistente, dor no corpo sem melhora com medicamento e prostração, devem procurar atendimento imediato nos serviços de urgência.
Folha de Franca – Como é a atuação do Conselho Municipal de Saúde e da Comissão Permanente de Saúde diante de problemas recorrentes como esses ora relatados?
O Conselho Municipal de Saúde é um órgão colegiado e deliberativo, tendo em sua composição, representantes de diversos segmentos da sociedade, como profissionais de saúde, prestadores de serviço, representantes do Governo, e tem como papel a formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde.
A Secretaria de Saúde se coloca à disposição para qualquer informação solicitada pelo conselho.