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Novo presidente da Esac (antiga Guarda Mirim) quer equilibrar finanças e modernizar entidade

Dedicação, talento e força de vontade talvez sejam boas palavras para sintetizar a trajetória do advogado Bruno da Silva Oliveira. Esse andreense, paulista de Santo André, adotou Franca como sua cidade há muitos anos e foi aqui que construiu uma carreira de sucesso, não sem antes enfrentar dificuldades e vencer muitos obstáculos.

Para se ter uma ideia, quando decidiu fazer Direito, Bruno passou no vestibular de uma faculdade de Ribeirão Preto, na qual conseguiu bolsa de estudos por meio de programa do Governo Federal. Mas não podia deixar o emprego em Franca, uma vez que ajudava no sustento da família. Sendo assim, durante os 5 anos da faculdade, ele viajava todos os dias para Ribeirão Preto, onde estudava, dormia numa pensão e voltava de madrugada para trabalhar em Franca. Foi assim, sem medir esforços, que ele se formou advogado, profissão que sonhava exercer desde a infância, e se tornou o primeiro de sua família a ter um diploma universitário.

Hoje, Bruno, prestes a completar 36 anos – em março – é casado com Fernanda Silva Costa Oliveira. Eles são os pais do Benício, de 7 anos, e da Alícia, de 3 anos e estar com eles, estar em família, é o maior prazer desse advogado.

À história de Bruno foi adicionado mais um lindo capítulo. Ele foi eleito presidente da Esac, a antiga Guarda Mirim, entidade na qual Bruno deu seus primeiros passos profissionais, há décadas.

(Imagens da época em que Bruno era guardinha: visita à cidade de Holambra, prêmio dado para os melhores alunos de cada escola)

Em entrevista concedida à Folha de Franca, Bruno conta mais detalhes de sua vida, de sua carreira e do relevante trabalho que pretende realizar à frente da Esac.

Esse homem, que é movido a sonhos e objetivos, se esforça para ser melhor a cada dia e almeja contribuir para transformar o mundo em um lugar melhor para todos. É com esse espírito que ele vai trabalhar para reequilibrar a Esac e modernizar os serviços prestados por essa entidade que há mais de 53 anos ajuda jovens francanos a encontrar caminhos melhores. Confira a entrevista abaixo:

Folha de Franca – Você é o primeiro ex-guardinha que se torna presidente da Esac (antiga Guarda Mirim). Qual a sensação dessa conquista?

Bruno da Silva Oliveira – A sensação é de uma alegria muito grande, aliada a um grande senso de responsabilidade e seriedade frente o trabalho que a entidade faz há 53 anos. Como guardinha, lá entre os anos de 1999/2000, tentei abstrair o máximo que pude da entidade, e voltar agora, integrando a diretoria, chegando à Presidência, é de uma satisfação pessoal muito grande, além de que é apenas uma devolução de tudo que a entidade um dia proporcionou para meu crescimento enquanto ser humano e profissional. Não bastasse, o senso de responsabilidade que o cargo traz, se confunde com um orgulho muito grande por estar na galeria de presidentes – que é integrada por Antônio Rocha, Jorge Alexandre Atiê, Márcio Bagueira Leal, Luís Mauro Costa Queiroz, Marinho da Conceição Procópio, Rui Engrácia Garcia e Xisto Antônio de Oliveira Júnior -, me envaidece enquanto ser humano, posto que são pessoas que sempre foram dignas de meu mais absoluto respeito, pelo senso de espírito público e social que representam.

Folha de Franca – O que significa para você ter sido guardinha? Conte-nos um pouco sobre essa época

Bruno – Como a maioria dos guardas-mirins, eu sempre morei e estudei em áreas de muita vulnerabilidade social. Ser guardinha foi o momento de ouro de minha adolescência, já que eu percebi que existia um outro mundo que não o do tráfico de drogas, um mundo onde eu seria o protagonista da minha própria história. Existe um Bruno antes da guarda-mirim e um Bruno depois da guarda-mirim. Enquanto guardinha pude sonhar os sonhos mais bonitos que um adolescente pode ter e a sensação de pertencimento que a entidade nos oferecia, me fez acreditar que era possível. Foi um momento de muita luta, muita persistência, onde os sonhos afloravam em cada olhar, em cada história de vida, mas que nos era dada a oportunidade de aprender que era possível e está sendo possível, dia após dia.

Folha de Franca – Por que você decidiu estudar Direito? Qual é sua área de atuação?

Bruno – Desde muito pequeno sempre falava que eu seria advogado, mesmo sem saber o que, de fato, fazia um advogado. No entanto, sempre fui obstinado a defender, quem quer que fosse, de qualquer injustiça. Certa vez, fui chamado pela diretora da escola sobre um aluno problemático em que o Conselho da Escola discutia a possibilidade de expulsá-lo e queriam saber minha opinião. Comecei minha carreira neste dia. Fiz um discurso muito efusivo de que a escola era a última trincheira na vida daquele menino. Que expulsá-lo, seria ajudá-lo a jamais encontrar qualquer oportunidade de sobrevivência aos anseios da vida. Venci minha primeira causa, ele não foi expulso.

Quanto à faculdade, negro, filho de um porteiro e de uma dona de casa, não havia a menor possibilidade de ingressar em uma Universidade paga. Ao terminar o ensino médio, passei 3 anos estudando para vestibulares, foi quando em 2005 fui selecionado para uma bolsa integral, através de um programa do Governo Federal, no entanto, a Faculdade era em Ribeirão Preto. Sem medir qualquer esforço, viajei todos os dias durante os 5 anos de faculdade até Ribeirão Preto, já que eu trabalhava em Franca, e fiz meu curso de Direito no Centro Universitário Barão de Mauá, que é meu berço acadêmico responsável por me propiciar uma formação absolutamente humana pra depois ser profissional.

Como não havia ônibus estudantil que fazia o trajeto de Franca para Ribeirão Preto, eu precisava dormir em uma pensão, acordava às 04h30 da manhã todos os dias, e voltava para Franca para trabalhar e ajudar no sustento da família, fato que perdurou durante os 05 anos do curso universitário.

Hoje tenho a honra em dizer que tenho 10 anos de atuação profissional na cidade de Franca, com escritório próprio e atuo em mais de 08 Estados brasileiros, em várias áreas de atuação, dentre as de destaque, a área cível, a empresarial e a trabalhista.

Folha de Franca – Como você chegou até a presidência da entidade?

Bruno – No ano de 2019 fui convidado para me associar ao Rotary Club de Franca, clube de serviços internacional, de absoluta relevância para a sociedade. Tal clube é o fundador e o responsável por administrar a ESAC desde sua criação, em 1969. Integrando os quadros do Rotary Club de Franca, fui convidado pelo então presidente, Dr. Rui Engrácia Garcia, a fazer parte da diretoria da entidade no biênio 2020/2021, sendo tesoureiro da entidade. Aceitei com absoluto desprendimento e dedicação e desde então venho fazendo um trabalho de integração entre todos. Prestes a vencer a então diretoria, fui convidado pelo então presidente, para que eu assumisse a presidência da entidade pelos próximos 2 anos. De prontidão, aceitei e meu nome foi levado ao crivo dos demais associados do Rotary Club de Franca, onde fui eleito para o cargo tão honroso.

Folha de Franca – Como funciona a Esac hoje em dia? Quantos jovens atende e quais os serviços de oferece?

Bruno – A Esac possui hoje quatro serviços: Exploração da Área Azul, Programa Menor Aprendiz, Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e Medida Socioeducativa.

A exploração da área azul é uma referência em nossa cidade, posto que somos uma das únicas cidades que vertem os valores da área azul para serviços sociais. No caso, toda arrecadação da área azul serve exclusivamente para manter o Programa Menor Aprendiz, que oferece um programa de aprendizagem aos jovens, elucidando questões administrativas e encaminhando tais jovens para o primeiro emprego. Tal serviço é uma referência nacional, posto que várias outras cidades nos procuram para conhecer o modelo de trabalho que realizamos para aplicarem em suas respectivas cidades. Além disso, não é exagero reconhecer que temos ex-guardas-mirins espalhados pela cidade que são exemplos de profissionais e humanos que se destacam em tudo que fazem.

Os outros dois programas também são referências no nosso munícipio, e são cofinanciados pelo Poder Público e se destacam com uma equipe multiprofissional absolutamente competente, e lidam diariamente com famílias, crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidades sociais, visando a reintegração social e minimização de suas vulnerabilidades.

Atualmente, mais de 720 pessoas são atendidas anualmente através de nossos serviços, além da geração de quase 70 empregos diretos.

Folha de Franca – Hoje em dia, como avalia o papel da Esac na vida dos jovens que atende e de suas famílias?

Bruno – O papel da Esac é o de transformação. Todas as histórias, de todos atendidos, se confundem. Há transformação porque a Esac, há muito, se dedica a ser a voz de alento a tantas desigualdades e desafios impostos à parte da população que é carente de oportunidades. A Esac chega com a transformação ao abrir as portas para esses atendidos e inseri-los em um mundo altamente competitivo, mas que é o local da realização de sonhos, sejam eles quais forem e que é possível realizá-los, daí o papel transformador da Esac.

Folha de Franca – De onde vem a renda para manter os trabalhos da entidade?

Bruno – A única fonte de renda da Esac é a exploração da área azul do município. É importante destacar que é um serviço que levanta muitos questionamentos, tendo em vista que os usuários imaginam que estão sendo taxados por pararem na via pública. No entanto, é importante destacar que o estacionamento rotativo existe em mais de 60% dos municípios e sua existência se destina a criar um sistema onde o estacionamento nos centros das cidades esteja disponível para que seja um local de fácil acesso, o que acaba por fomentar o comércio local e reflete na economia da cidade.

Não bastasse, como dito, somos uma das poucas cidades que vertem essa arrecadação para um trabalho social. A renda integral é destinada à manutenção de nossos serviços, em especial, os programas de aprendizagem.

Folha de Franca – A Esac também tem sentido os efeitos da pandemia e passa por uma crise sem precedentes. Quais as maiores dificuldades que a entidade tem enfrentado?

Bruno – Com os decretos de restrição advindos desde março de 2020, a entidade viu sua única fonte de renda ruir. Estivemos parados por 60 dias (intercalados) entre tal período e com isso, a entidade passa por absoluto desequilíbrio financeiro, que torna o desafio de gerir as contas ainda maior. A entidade passa dificuldades desde honrar com os compromissos com seus funcionários, até o pagamento de contas acessórias, o que está sendo feito com muita dificuldade.

Folha de Franca – O que a comunidade pode fazer para ajudar a Esac?

Bruno – A comunidade pode nos ajudar de diversas formas, dentre as quais, estacionando seus veículos na área azul, compreendendo que tal valor se destina a um projeto social belíssimo e de absoluta relevância. Além do mais, fazemos diversas promoções anuais visando o equilíbrio financeiro de nossa entidade, como por exemplo, a venda de pães de queijo congelados, que será realizada no dia 27/01. Toda arrecadação é vertida exclusivamente para manutenção de nossos trabalhos. (Para colaborar, é simples. Você compra o pão de queijo  – 1 quilo custa R$ 20 – e paga via PIX, cuja chave é o CNPJ 49.219.660.0001-57, e envia o comprovante para o 99155-2593. A entrega será feita no dia 27 de janeiro, das 09h às 11h, na Avenida Champagnat, 1808, Centro. Mais informações pelo 3403-9071)

Folha de Franca – Quais são seus planos a médio e longo prazo à frente da entidade?

Bruno – A médio prazo o plano é reestruturar a Esac financeiramente e fazer com que possa voltar a honrar seus compromissos financeiros, o que sempre foi possível nos seus 53 anos de existência. Embora seja de médio prazo, desde o 1º dia de gestão esse é o foco, de forma a dar sustentabilidade aos empregos e serviços que prestamos e prezamos com absoluta dignidade.

A longo prazo o plano é modernizar nossos serviços, dar uma visibilidade diferente da que é atribuída à área azul através da conscientização da população, além de trabalhar em prol do atendimento de 1000 adolescentes anualmente, com crescimento exponencial de nosso programa de aprendizagem.

Joelma Ospedal

É jornalista e apaixonada por comunicação.

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