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Alunos denunciam assédio no EETC; direção diz que fato foi pontual e está atuando no caso

Na última sexta-feira, 18, um protesto organizado por alunos da EETC (Escola Estadual Torquato Caleiro), no Centro de Franca, que pretendia cobrar da direção respostas sobre uma denúncia de assédio de um aluno contra uma professora, acabou em confusão generalizada e a Polícia Militar precisou ser chamada.
O que pretendia ser um ato pacífico, com a leitura de poesia e discussão sobre o assunto “assédio” saiu do controle e teve episódio de arrombamento de porta de sala de aula. Duas estudantes foram punidas com suspensão. A diretoria da escola diz que trata-se de um fato pontual e que está atuando no caso.

Os relatos chegaram à Folha de Franca logo no início da semana e diziam respeito a casos de assédios que estariam sendo cometidos dentro da instituição e que partiriam de toda a parte: alunos assediando alunos, alunos assediando professores e professores assediando alunos. A reportagem conversou com uma professora, uma mãe de alunas da escola e uma aluna. Todas pediram para não terem seus nomes revelados para não sofrerem represália. Os relatos também davam conta de que a diretoria da EETC não teria tomado nenhuma providência quanto ao assédio de um aluno contra uma professora. “Há algum tempo a escola tem tido casos de assédio que, mesmo denunciados à direção, não foram resolvidos e sequer discutidos internamente”, revela uma professora em texto enviado à redação.

O fato parece que teve o seu estopim na mesma semana em que aconteceu o fatídico protesto de sexta, mais precisamente na quarta-feira, 16. De acordo com a vice-diretora da escola, Janete Carvalho Lopes, que estava na direção por conta das férias do titular Carlos Roberto Ferreira, a professora em questão teria a procurado para cientificá-la de que dois alunos estariam a elogiando com uma certa frequência e que já a estaria incomodando. “Nossa orientação foi deixar à sua escolha se ela gostaria de tentar uma primeira conversa com os alunos para resolver ou se queria que a direção conversasse com eles”, disse Janete. A professora decidiu ela mesma ter a conversa com os estudantes.

Após o diálogo com os alunos, a própria professora relatou à segunda vice-diretora, Marta Cristina Alves de Lima, o ocorrido e que eles se comprometeram a dar o caso por encerrado. Janete acredita que após essa conversa, alunos de outras turmas ficaram sabendo do “assédio” e teve início um comentário geral nos corredores da escola sobre o assunto. “Na sexta-feira, uma aluna veio até à diretoria para avisar que fariam uma manifestação no pátio do colégio porque a direção não estava fazendo nada sobre o assunto”, conta Janete.

De acordo com ela, a estudante foi informada sobre o que havia sido decidido junto com a professora e orientada a deixar de lado o protesto e ajudar a organizar um movimento para tratar sobre o assunto em uma aula eletiva com a ajuda da coordenação. “Mas ela estava decidida a continuar com o protesto, saiu da sala e foi para o pátio”, relata Janete.

O protesto aconteceu de forma pacífica no início, porém, em determinado momento, uma das alunas resolveu ir até a sala de aula onde um dos alunos denunciado como “assediador” se encontrava. “A professora que estava na sala de aula não a deixou entrar e ela chutou a porta e a arrombou”, conta a vice-diretora. O momento do arrombamento foi filmado por alunos que acompanhavam o movimento.

Com o evento fora de controle, a direção da escola chamou a PM para apaziguar os ânimos e dispersar os estudantes. Não houve mais clima para aula naquele dia.

Punição

Alunos que não sabiam do procedimento anterior orientado pela direção – que a professora conversasse com os dois alunos sobre o assédio e resolvesse a questão – disseram que a diretoria não tinha feito nada a respeito do assunto. Também disseram que somente houve punição para quem estava indignado com a situação. “Quem quis protestar para cobrar ações da diretoria foi punido com suspensão. Quem assediou a professora não foi, estava lá na aula no dia seguinte”, diz a mãe de uma aluna, que confirmou a informação.

“A direção da escola tomou as devidas providências em cada um dos casos. As punições às alunas ocorreram uma por ter estragado patrimônio público (o conserto da porta da sala foi pago pelos pais da aluna) e a outra por infringir uma regra da escola fazendo mobilização em horário de aula, sem o consentimento da direção e causando tumulto no local”, explicou Janete. No caso dos alunos que teriam assediado a professora, o assunto foi resolvido com uma reunião entre as partes.

Ainda de acordo com a vice-diretora, todo o ocorrido na escola sobre o assunto foi repassado à Seduc-SP (Secretaria de Educação do Estado de São Paulo) através da plataforma Placon (Plataforma do Programa Conviva SP). Em nota a Seduc-SP confirmou as falas da direção da EETC (veja nota abaixo).

“A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) informa que a direção da unidade não recebeu nenhuma denúncia de assédio partindo de professores, mas irá conversar com os estudantes para esclarecer os fatos e se necessário solicitar uma apuração preliminar para a Diretoria de Ensino de Franca. 

No caso dos comentários feitos a professora, a mesma foi ouvida e acolhida pela direção da unidade. Os estudantes foram chamados para uma conversa de mediação à a pedido da própria docente. 

O caso foi inserido na Plataforma Conviva SP – Placon, sistema utilizado para acompanhamento de registro de ocorrências escolares na rede estadual de ensino. A escola coloca à disposição dos estudantes e profissionais a assistência do Programa Psicólogos na Educação, se autorizado por seus responsáveis no caso dos menores.”

Solução

Para o diretor da instituição, Carlos Roberto, o evento ocorrido na última sexta-feira foi pontual e, apesar de sair do controle, já está sendo devidamente tratado e resolvido com a participação de todos. “Estamos organizando junto à coordenação da escola um projeto que deverá acontecer em maio com a participação de uma ONG de Franca que trabalha com a questão de assédio dentro das escolas. Junto de tudo isso, temos o projeto Psicologia Viva que está disponível para os alunos para auxiliá-los”, disse.

As pessoas ouvidas pela reportagem também reclamaram da falta de um conselho escolar na unidade. “O conselho escolar pode ajudar a resolver esta falta de comunicação e de informação para pais e alunos. Mas a escola não tem conselho. Teve eleição mas até agora não foi informado nada sobre quem são os representantes”, disse uma professora ouvida. A direção da EETC informou que o conselho existe e que já tiveram reunidos este ano.

Alessandro Macedo

É jornalista e editor da Folha de Franca

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