Folhinha

Folhinha Especial de Carnaval

“Lá vem a Unidos do Viradouro!”

Ô Abre- alas

“…Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim”

Apenas um trechinho da primeira marchinha de Carnaval composta por Chiquinha Gonzaga. Ô abre alas”. O samba passou a se popularizar a partir de 1917. Marchinha muito tocada durante o Carnaval.

Fevereiro chegou e como ele o Carnaval, que é uma das festas populares mais conhecida no mundo, sendo uma das principais festividades do Brasil. Sua origem está na Idade Média e chegou ao Brasil durante o período colonial, caracterizado por diversas brincadeiras realizadas pelos escravizados, como: guerras de água, farinha, limões e areia.


As manifestações carnavalescas como conhecemos hoje só começaram a surgir a partir do século XIX. Ao longo do século XX, vários ritmos e danças passaram a fazer parte do Carnaval brasileiro. Atualmente, ritmos como o samba, o maracatu e o frevo são seus símbolos. Transformou-se na principal festa popular brasileira a partir da década de 1930 e, atualmente, conta com os blocos de rua que são formados nos grandes centros do país, assim como os desfiles das escolas de samba.

 Na década de 1930, o samba e os desfiles das escolas de samba tornaram-se elemento fundamental do nosso Carnaval. O sucesso das escolas de samba levou à construção e inauguração, em 1984, do Sambódromo Marquês de Sapucaí, local no qual os desfiles acontecem na cidade do Rio de Janeiro.

Hoje conheceremos um pouquinho da Escola de Samba Unidos do Viradouro.

Fundação: 24 de junho de 1946

Cores: Vermelho e branco

Símbolo: uma coroa e um aperto de mão inter-racial

Cidade: Niterói- RJ

Presidente: Marcelo Calill Petrus Filho

Carnavalesco: Tacísio Zannon

Enredo 2023: Rosa Maria Egipicíaca

Site oficial: https://unidosdoviradouro.com.br/


A FLOR DO RIO DE JANEIRO

Prepare o seu coração!

Era uma vez…  

Uma criança preta, africana, nascida em data incerta, no litoral do Golfo de Benim, na terra de Courá, na África Ocidental, foi escravizada e vendida aos traficantes de escravos. Ela chegou ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em 1725, aos 6 anos de idade.

Foi comprada pelo senhor José de Souza Azevedo, que a mandou batizar na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Era certamente a igreja carioca onde mais escravos eram batizados.

Desenho de Rafaella Mozetti

Conhecida como Rosa Courana, viveu durante oito anos em condição de cativeiro, sofreu muito com o primeiro dono, depois foi vendida para uma compradora de Minas Gerais, nas proximidades da cidade de Mariana, no ano de 1733, quando tinha quatorze anos. Ali permaneceu por cerca de vinte anos. Conheceu muitos escravizados que trabalhavam na extração do ouro.

Quando tinha trinta anos, ficou doente, sentia muitas dores e neste período teve algumas visões e por volta de 1748, vendeu todos os bens que tinha: ouro, roupas… e distribuiu aos pobres.

Rosa começou a frequentar missas e ganhou a fama de visionária e profetisa em algumas cidades mineiras. Em 1751, ela voltou para o Rio de Janeiro.

Como veio para o Brasil muito novinha, não sabia o nome dos pais, sua data de nascimento, nem mesmo seu nome, ela mesma decidiu que se chamaria Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, uma homenagem a Santa Maria Egipcíaca.

Desenho: Rafaella Mozetti

Rosa afirmava ter visões, profetizar acontecimentos futuros. Foi também a primeira mulher negra a publicar um livro. Por falar que tinha visões e fazer poetizações, algumas autoridades não gostaram e ela foi denunciada pelo Bispo do Rio de Janeiro ao tribunal da Inquisição de Lisboa em 1762, onde permaneceu na prisão. O processo contra Rosa foi encerrado em 1765, mas não se sabe qual foi a pena que ela recebeu.

Mesmo presa e sofrendo punições, ela nunca deixou de dizer que as suas visões eram verdadeiras. A vida dela inspirou a produção do livro Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil, uma biografia de 750 páginas escrita por Luiz Mott.

Rosa Maria Egipcíaca foi considerada a Flor do Rio de Janeiro.

Desenho: Rafaella Mozetti

Toda esta história até que poderia ser roteiro de filme, série, novela… Enquanto Rosa Maria não vai para as telas, a Escola de Samba Unidos do Viradouro canta e encanta com o enredo que conta a história da Flor do Rio.

Conheça alguns integrantes deste desfile que promete perfumar e encantar o Carnaval, pois como diz um trechinho do samba-enredo, brilhantemente entoado na voz do intérprete oficial da escola, Zé Paulo Sierra, e acompanhado pela bateria Furacão Vermelho e Branco do Mestre Ciça:

“… Rosa Maria, Menina Flor

Rainha do espelho mar

Na pele do tambor

Pranto das dores que resistiu

Deságua no imenso Brasil

Sua voz incorporou…”

Ouça o samba-enredo na íntegra:

Zé Paulo Sierra e Mestre Ciça

Ouça a bateria “Furação Vermelho e Branco”


Gabriela Alexandra Reis da Silva, 8 anos

Gabi nasceu no dia 21 de outubro de 2014, na cidade do Rio de Janeiro. No desfile da Viradouro, ela representará Rosa Maria na infância.

“A parte do samba-enredo que mais gosto é Rosa Maria, menina flor, porque fala do meu personagem. Na avenida, serei a Rosa Maria quando menina. Comecei no Carnaval por influência dos meus pais e minha avó. Os ensaios estão sendo bem legais e divertidos. Ensaio no barracão, na rua e com o meu tio Márcio Moura, que é diretor da coreografia. Meu sonho é ser porta-bandeira, igual a tia Ruth”

Álbum da Gabi, a Menina-Flor

Entrevista com Viviane Sousa, a Rosa Maria na idade adulta

Viviane

Vivi nasceu no Rio de Janeiro-RJ, em 4 de agosto. É professora de inglês, secretária executiva e desfila pela Viradouro. Também representará Rosa Maria na idade adulta. Confira n entrevista:

FOLHINHA: como foi sua infância: do que brincava, onde brincava, quais eram seus brinquedos preferidos?

VIVI:  Minha infância foi muito feliz. Brincava com crianças que são meus amigos até hoje! Brincávamos nas nossas casas ou na rua. Gostávamos de brincar de boneca e bonecos masculinos e todos os tipos de jogo de tabuleiro ou de rua.

FOLHINHA: Como é lugar em que você mora?

VIVI: Vivo em um bairro chamado Ilha do Governador, fica no Rio de Janeiro. Aqui, parece o uma cidadezinha do interior. Tem paisagens muito bonitas e histórias muito legais de pessoas que moraram aqui. É uma ilha linda!

FOLHINHA: Como era na escola? Teve uma professora inesquecível? Do que mais se recorda?

VIVI: Eu gostava muito da Tia Sheila, que foi minha primeira professora no colégio. Eu fui uma boa aluna até a quinta série. Quando fiz 12 anos, mudei de colégio e virei uma bagunceira. Sentava no “fundão” com a turma da bagunça e ficava com preguiça de estudar. Até que repeti o 1° ano do segundo grau e passei a estudar para não repetir nunca mais!

FOLHINHA: O que representa o carnaval para você? Como ele entrou em sua vida?

VIVI: O carnaval faz parte da minha vida, eu desfilo há 25 anos. Fiz vários amigos e vivo momentos muito felizes na escola de samba. Meus pais não desfilavam e eu sempre achei lindas aquelas roupas brilhosas e enfeitadas e, como gostava de dançar, me inscrevi na ala de passistas de uma escola de samba chamada “União da Ilha do Governador” perto da minha casa. Fiquei desfilando lá por 17 anos!

FOLHINHA: Como explicaria o carnaval para uma criança?

VIVI: O carnaval é uma festa muito grande e muito importante, que acontece todo ano, em fevereiro. As pessoas usam fantasias e se divertem cantando e dançando samba durante 4 dias. Durante o dia, as pessoas curtem os blocos nas ruas de toda a cidade e, de noite, tem os desfiles das escolas de samba em um lugar que foi feito especialmente para elas: Avenida Marquês de Sapucaí. Esses desfiles passam nas televisões do mundo todo e quem desfila se sente um artista de verdade.

FOLHINHA: Como é participar de uma escola de samba? Tem uma escola preferida? Como foi a escolha? Quem são os foram seus maiores incentivadores?

VIVI: Ser de uma escola de samba é muito bom porque você faz parte de um grupo que ama e torce pela mesma escola, mas que também participa do show da escola. É como se fosse poder participar dos jogos do seu time de coração e ajudá-lo a ganhar um campeonato. Imagina!! A minha escola de coração é a Viradouro. Eu era de outra escola, mas parei de desfilar lá e conheci o meu marido, que desfila na Viradouro. Quando eu comecei a frequentar, fiquei apaixonada por ela. Meus maiores incentivadores foram meus amigos, que diziam que eu sambava bem.

FOLHINHA: O que uma escola precisa para vencer um carnaval?

VIVI: As escolas precisam desfilar cumprindo várias regras. Um grupo de jurados dá a nota e, no final, a que tirou as notas mais altas, ganha.

FOLHINHA: Vivenciou o título da Viradouro em 2020? Como foi?

VIVI: Eu desfilei quando a Viradouro ganhou em 2020. Eu era uma das guardiãs do casal de mestre sala e porta-bandeira. Os guardiões ajudam a proteger o espaço em que o casal dança. Foi emocionante e inesquecível. Tínhamos ensaiado muito para fazer um grande desfile.

Com Karen: coreógrafa e Robson: assistente de coreográfia

FOLHINHA: Lugar de criança também é no samba? Por quê?

VIVI: O samba é um lugar perfeito para criança porque ajuda a fazer com que as crianças se amem, se conheçam melhor. Faz com que as crianças aprendam nossa sobre nossa cultura, sobre a história do Brasil, inclusive as histórias que não são ensinadas na escola e que aprenda a desenvolver uma arte, como sambar, dançar ou tocar algum instrumento. Sem contar os vários amigos que conhece.

FOLHINHA: O que representa a Viradouro para você? Ela é realmente a Escola da Emoção? Cite alguns momentos inesquecíveis/engraçados vividos por você na escola.

VIVI: A Viradouro significa o lugar que eu frequento para fazer parte de uma arte gigante chamada Carnaval. Significa um lugar de acolhimento, amizade, alegria e fortalecimento. É a escola da emoção porque trabalha muito sério para manter sua história e dignidade procurando manter o bem de sua comunidade. Um momento inesquecível foi o desfile de 2020, quando senti a felicidade de desfilar quando ela foi campeã.

FOLHINHA: Prepare o seu coração! Você está sempre preparada? Quais personagens já representou?

VIVI: Estamos nos preparando há alguns meses para desfilar. Tenho certeza de que estarei pronta para o desfile. Eu já representei a namorada do Michael Jackson no clipe do Thriller (2018); desfilei no abre-alas em 2019; uma lavadeira ganhadeira em 2020 e a Rainha das Borboletas Negras em 2022.

FOLHINHA: Neste carnaval, você será uma das fases de Rosa Maria. Como está sendo a experiência? Como está se preparando?

VIVI: Essa é a maior experiência vivida por mim no carnaval. E olha que já desfilo há 25 anos! Estou cada vez mais envolvida com a Rosa Maria. Tenho buscado informações sobre a história dela e me sinto muito honrada em representar uma mulher tão incrível como ela. Eu ensaio com a minha ala “Procissão dos Desvalidos” duas vezes por semana.

FOLHINHA: Como a comunidade recebeu Rosa Maria? Como o tema foi escolhido?

VIVI: O tema foi a ideia do carnavalesco Tarcísio Zannon. Ele mostrou a ideia para os presidentes e eles gostaram. Os presidentes desistiram do enredo que eles queriam e preferiram o da Rosa. A comunidade recebeu muito bem. Quem não iria adorar a história fantástica da Rosa Maria Egipsíaca?

FOLHINHA: Quem foi Rosa Maria? Como a apresentaria a Rosa para as crianças?

VIVI: Rosa Maria foi uma moça africana, que veio forçada para o Brasil com 6 aninhos para ser escravizada. Ela viveu no Rio de Janeiro até virar adolescente e depois foi vendida para trabalhar em Minas Gerais. Ela sofreu muito com os trabalhos que ela tinha que fazer e depois de um tempo, começou a ter visões, deu todo o se dinheiro para as pessoas pobres e foi ajudada por um padre. Mas ela era perseguida pelas pessoas que achavam que ela era bruxa, então voltou para o Rio de Janeiro, fez uma casa para ajudar mulheres e continuou rezando e ajudando muita gente. Rosa era amada pelo povo e eles a consideravam uma santa. Mas as pessoas que a perseguiam a encontrou novamente e levou Rosa para Portugal, para ser julgada por bruxaria. E ela morreu lá, presa em uma masmorra.

Ao lado de Márcio Moura: “O responsável por tudo. Márcio é diretor artístico e coreógrafo da Viradouro. Pessoa muito importante no meu processo artístico também no da Gabi. Me deu a oportunidade de representar a Rosa

FOLHINHA: Qual/s sua/s parte/s preferidas no samba-enredo? Por quê?

VIVI: O samba todo é muito bonito e muito bom de cantar e dançar. Mas sempre gostei mais do refrão: “É vento na saia da preta courá, na ginga do acontundá, é ventania”. Porque eu imagino a Rosa em um momento feliz, quando ela dançava com outros escravos, cultivando sua cultura, já que “acontundá” era um ritual praticado pelos couranos (pessoas do povo de Rosa). Na parte da ventania, imagino que ela dançava com muita energia.

FOLHINHA: Os ensinamentos da Rosa para você e para toda comunidade da Viradouro…

VIVI: A solidariedade e a compaixão. Rosa ajudou outras pessoas, mesmo vivendo em sofrimento. Acreditou no bem e praticou o quanto pôde. E a força em continuar vivendo.

Os preferidos da Vivi

Um filme – “Nos tempos da brilhantina”

Um livro – “O cortiço” – Aluízio Azevedo

Um personagem de filme ou da literatura que se identifica. Por quê?

A super-heroína “Tempestade”, inclusive, já me fantasiei duas vezes. Porque ela é linda, poderosa e um pouco temperamental.

Uma música – várias, impossível escolher.

Um poema – “Amor é Fogo que arde sem se ver” – Camões

Um lugar no Rio de Janeiro: Ilha do Governador

Uma cor – vermelha

Time de futebol – Flamengo

Comida preferida – Comida japonesa

Pessoas que admira – Admiro pessoas que ajudam os outros e os animais.

Um ídolo/a – Michael Jackson

Uma alegria -Sambar

Rosa em uma palavra – Força

Sonhos para o futuro – Poder ajudar mais os animais.

As crianças e as histórias na Viradouro

Maria Eduarda da Silva dos Santos, 10 anos

“Nasci em Niterói, RJ, no dia 1 de julho de 2012, Carnaval para mim é cultura, amor, alegria e a melhor época do ano. Participo desde que eu tinha, 4 anos, meu pai era vice-presidente da escola de samba “Grupo dos XV”, de Niterói e que desfilava na Rua da Conceição. Minha escola preferida é a Viradouro. Minha mãe sempre me levou aos ensaios e me ensinou a amar o carnaval. Sou Musa Mirim da escola “Garra de Ouro e Rainha Mirim dos Acadêmicos Data Vênia”.

Álbum da Duda

João Gabriel da Silva Ribeiro, 14 anos

Nasci em Niterói-RJ em 15 de janeiro de 2009. O carnaval é onde demonstro todo meu amor e respeito pela minha escola de samba, no caso a minha é a Viradouro. Foi a escola que abriu as portas para mim e me apaixonei pelo projeto de casais. Em uma escola não pode faltar respeito, dedicação, união e harmonia. Se eu fosse escolher um tema para desenvolver, seria o respeito às religiões”.

Clara Martins Peçanha Costa, 15 anos

“Nasci em São Gonçalo- RJ em 15 de fevereiro de 2007. O carnaval é a época do ano que me traz felicidade, alegria. É o mês em que nasci, então tenho um amor muito grande. A Viradouro é minha escola do coração, que me identifiquei e me acolheu. Em uma escola mirim, os temas que seriam interessantes para desenvolver um enredo seriam: São Cosme e Damião, Olimpíadas e a educação da nova geração”.

Cauã Caldeira Fernandes, 13 anos

“Nasci em 24 de maio de 2009, na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Carnaval para mim é alegria, dança, folia e amor pela escola de samba que desfila. É se divertir com amor e alegria. Participo com orgulho e minha escola preferida é a Viradouro de alma lavada! Ser Viradouro é algo especial, vestir a camisa vermelha e branca é sangue correndo na veia, é energia! Sou apaixonado. Carnaval é descobrir novos talentos, é arte! Sou um passista premiado”.

Ananda Santos, 15 anos

Nasci em Niterói- RJ, no dia 18 de abril de 2007. Falar de Carnaval para mim é muito fácil, pois sou apaixonada nessa festa popular-cultural. Minha escola de coração é a Viradouro, frequento desde bem pequena, já fui da ala dos adolescentes e hoje, tenho orgulho em dizer que sou passista da minha escola com muito orgulho! Sempre sonhei em ser passista e no ano de 2022, houve um concurso no qual o diretor da ala Valci Pelé me deixou participar e aqui estou, compondo a ala”.


Indicação Literária

Assista aos vídeos:

Rita Mozetti

É Mestra em Desenvolvimento Regional, Doutoranda em Serviço Social, Pedagoga, professora do Ensino Fundamental e Ensino Superior, Gestora de Formação Continuada e Vencedora do Prêmio Educador Nota 10.

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