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Como nasce uma escritora

Karina Spinelli Gera nasceu em 16 de novembro, na cidade de São Paulo, quando tinha 16 anos, mudou-se com a família para Franca e hoje, reside em Ribeirão Preto. Formou-se em Publicidade e Propaganda, é professora, artista visual, escritora e contadora de histórias. Conhecida como a Tia Lokinha

Perguntamos a ela: Como nasce uma escritora? Para descobrir toda aventura, criatividade e descobertas, leia a entrevista com a Karina, ou seria com a Tia Lokinha?

Karina com a mãe Cidinha

FOLHINHA: Karina, do que brincava na infância?

KARINA: Cresci na cidade de São Paulo, não tinha muito como brincar na rua, que era perigoso, então ficava em casa desenhando, criando invenções mirabolantes, inclusive roupas de retalhos para bonecas, sonhava ser estilista de moda.


Com 1 ano
Aos 4 anos

FOLHINHA: Era uma criança que lia muito? Tinhas histórias e autores preferidos?

KARINA: Eu adorava ler, na escola tinha aula de biblioteca e eu aproveitava cada minuto para me aventurar nos livros. Minha mãe também lia muito para a gente e nos levava a toda semana na biblioteca municipal. Gostava muito de Monteiro Lobato, Ruth Rocha e Ziraldo, mas foi o livro Reinações de Narizinho, que marcou mais a minha infância.

Na 4ª série

FOLHINHA: Como descobriu o talento para escrever e contar histórias?

KARINA: Eu sempre gostei de me expressar pela escrita, sou tímida e no texto consigo dizer tudo que penso e sinto.  Não imaginava que seria escritora um dia, mas sempre estive envolvida em atividades de escrita. Na escola, escrevia com facilidade a minha e a redação dos colegas para as tarefas. Na faculdade, ajudava a editar e publicar o jornal semanal. Meu primeiro trabalho, depois de graduada, foi em um jornal. É um hábito, desde pequena, escrever sobre o meu dia e fui juntando muitas histórias, até o dia que decidi transformar meu olhar carinhoso sobre o mundo, e muitos rabiscos de bichos e bonecos, em um livro para crianças.

Aos 6 anos
Ao lado dos irmãos Giuliano e Daniel

FOLHINHA: Como nasceu o primeiro livro?

KARINA: Foi através de uma brincadeira da infância que nasceu meu primeiro livro: As Batatas do Seu Saboroso.  Ficava na cozinha, enquanto minha mãe cozinhava, e transformava batatas em bonecos e bichos. O livro ganhou um protagonista real, o Sr. Aparecido, do Supermercado São Paulo, e as batatas mágicas o ajudam no preparo das refeições.  

FOLHINHA: E como surgiu a vontade de se tornar uma contadora de histórias?

KARINA: A contação das histórias começou em um projeto que idealizei em 2009, o Artiloka, que unia talentos para levar arte em escolas, hospitais e empresas e fui me apaixonando pela literatura infantil ainda mais, ao ver como estas histórias transformavam a vida das crianças, eram como abraços para as crianças que estavam nos hospitais e isso me impulsionou a transformar as histórias em livros.  No início da pandemia da Covid-19, resolvi levar meus contos curtos para o universo digital e para vencer a timidez, me escondia atrás da personagem tia Lokinha, ela é muito mais simpática e sociável do que a Karina.

FOLHINHA: Quais os livros já publicados?

KARINA: Foram 5 livros até agora: “As Batatas do Seu Saboroso”, “A Xerife dos Animais”, “Patrícia na TV”, “Quando Olhei a Floresta por uma Fresta” e o mais recente, que foi vencedor de concurso internacional da Editora Ases da Literatura: “As Cores do Tesouro Mais Valioso”.


FOLHINHA: Qual é o seu preferido?

KARINA: O primeiro livro, “As Batatas do Seu Saboroso” foi muito marcante, por ser uma história biográfica e eu tive muito contato com o Sr. Aparecido antes, durante e depois da publicação e a repercussão da obra foi muito gostosa, o próprio Aparecido e a esposa, Norma, me ajudaram a autografar no lançamento, foi um presente.

Karina e um dos seus personagens: o seo” Aparecido (proprietário do Supermercado São Paulo)

FOLHINHA: Por que escrever para crianças?

KARINA: A infância é tema que sempre me inspirou nas artes visuais, pintei muitos quadros com balões, pipas, pirulitos, máscaras, enfim, eu gosto da sensação de poder contribuir para a formação do ser e na infância a gente é livre para se expressar e escrever para este público é como continuar morando na infância.

FOLHINHA: Por que contar histórias?

KARINA: Para levar encanto e imaginação para as pessoas, para segurar nas mãos de cada espectador e trazê-lo para uma viagem dentro da minha imaginação.


FOLHINHA: Dos cinco livros que escreveu, três são biográficos, em homenagens a personalidades de nossa cidade. Como veio a ideia: As batatas do Seu Saboroso?

KARINA: Dos cinco livros, três são biográficos. O primeiro livro seria sobre batatas que faziam peripécias na cozinha, baseado em minhas memórias de infância. Porém, um dia quando entrei no supermercado São Paulo, e vi o Sr. Aparecido no setor de hortifruti, na hora ele entrou na minha história e pegou todas as minhas batatas para ele, então mudei a história e o nome do livro se tornou As Batatas do Seu Saboroso.

FOLHINHA: E quem é o Xerife dos Animais?

KARINA: Foi o segundo livro, uma aventura. Eu fui procurada por Alexandre do Couto Rosa, sobrinho da dona Maria Aparecida Tasso e ele me contou a história dela, na mesma semana fui entrevistá-la e o livro já estava pronto, a narrativa era a história dela, muitas cenas pareciam ficção, mas tinham acontecido de verdade. Esta senhora movia o mundo para salvar um bicho e foi reconhecida como a primeira protetora dos animais, mulher, do Brasil, que eu carinhosamente nomeei o livro de Xerife dos Animais.

Família completa: Gustavo, Karina, Justine e Turitu

FOLHINHA: E Patrícia na TV?

KARINA: Eu gostei tanto de fazer homenagens em vida, que escolhi uma mulher que muito admirava, a Sônia Menezes Pizzo, para escrever o terceiro livro. Esta história é sobre uma jornalista que enfrentou preconceito e sofreu intimidação por ser mulher, em uma época em que apenas homens podiam trabalhar em determinadas profissões, mas ela não desistiu do sonho e mudou o próprio nome, passou a se chamar Patrícia, para se tornar uma das mulheres mais conhecidas do interior de São Paulo. Eu gosto de homenagear e eternizar as pessoas em meus livros, mas infelizmente, este, a Sônia não o recebeu, pois uma doença a acometeu e ela faleceu sem ver a conclusão da obra.

FOLHINHA: Quais dicas você daria para que possamos desenvolver a criatividade?

KARINA: Buscar conhecimentos distintos, tentar fontes de pesquisas digital e não digital; fazer combinações sem medo de errar; e principalmente, escutar a sua voz interior, que ela sabe das coisas.

FOLHINHA: Como nasce uma escritora?

KARINA: Acreditando no seu trabalho.  Pedindo ajuda para escritores que já estão na estrada. Ignorar sugestões de mudanças na sua escrita, que não se adequem ao seu estilo. Nunca desistir.

FOLHINHA: Quais são seus planos literários?

KARINA: Neste momento muitos projetos estão caminhando lentamente, pois estou me dedicando quase que integralmente a maternidade. Neste ano, devo lançar mais dois livros, um biográfico e outro sobre educação ambiental, mas devo voltar com mais velocidade só em 2024.

Com a filha, Justine
Com esposo Gustavo: Bolo de 1 ano da Justine “A Xerife dos Animais”

FOLHINHA: Ler ou escrever? O que é mais importante?

KARINA: Para escrever é preciso ter repertório, saber das coisas, conhecer diferentes possibilidades para a escrita acontecer de forma natural e encontrar seu próprio estilo, então ler é uma atividade necessária para a construção de uma escrita inesquecível com sua própria identidade.

FOLHINHA: Uma história que você gostaria de ter inventado.

KARINA: O livro: “Laranja Pêra couve manteiga”, de Maria Amália Camargo é fascinante pela construção poética, que é uma área que eu adoro. Neste livro ela consegue criar um enredo muito bacana em cima de ingredientes e culinária típicas do Brasil. É um encanto do começo ao fim, um dia espero escrever assim.

FOLHINHA: Tem um personagem da literatura que você se identifica?

KARINA: Sim, a Emília, de Monteiro Lobato, ela me inspirou a construir a minha personagem, tia Lokinha, que é uma boneca também, investigativa, curiosa, teimosa, vai atrás do que acredita e é meio maluquinha, assim como a personagem do Sítio, e tudo isso misturado com sensibilidade.

FOLHINA: O que a Karina criança diria para a Karina adulta?

KARINA: Karina, me leve sempre com você.

FOLHINHA: Sua filha, a Justine, com apenas 1 ano, já é sua leitora?

KARINA: Sim, conto histórias todos os dias para ela. Ela ama o livro: “A Xerife dos Animais” e o livro “Marcelo, Marmelo, Martelo” da Ruth Rocha.

Justine e o livro preferido


Álbum de Família


Mais um pouquinho sobre a Tia Lokinha:

https://www.instagram.com/artilokinha/

https://www.youtube.com/artilokinha


OS PREFERIDOS:

Um poema: Borboletas – Manoel de Barros

Um livro: O Pequeno Príncipe, este livro me acompanha.

Uma música: Saint-Saëns: Le Carnaval des Animaux, R. 125 – Le Cygne (eu adoro música instrumental)

Filme: A fantástica fábrica de chocolate e vários outros dirigidos pelo Tim Burton.

Uma frase: “Fazer o que você gosta é liberdade. Gostar do que você faz é felicidade” – Frank Tyger

Uma cor: azul

Comida preferida: macarronada


Borboletas

Manoel de Barros


Borboletas me convidaram a elas.

O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.

Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.

Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria,

com certeza, um mundo livre aos poemas.

Daquele ponto de vista:

Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.

Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.

Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.

Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas. Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de uma borboleta.

Ali até o meu fascínio era azul.

Rita Mozetti

É Mestra em Desenvolvimento Regional, Doutoranda em Serviço Social, Pedagoga, professora do Ensino Fundamental e Ensino Superior, Gestora de Formação Continuada e Vencedora do Prêmio Educador Nota 10.

3 Comentários

  1. Que história de vida literária bonita! Se inspirar em pessoas da cidade e colocá-las em suas histórias foi muito lindo.
    Espero conhecer a Tia Lokinha pessoalmente e também convidá-la para uma manhã na escola Hélio Paulino. Eu e as crianças iríamos amar.

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