Tal como sou
Conflitos, de aflitos, e contritos.
Pais de filhos em crescimento sabem que filho criado é trabalho dobrado.
Ditado popular ou não, encerra sentença cunhada no nosso lar de cada manhã, tarde ou noite.
Dá para mudar as pessoas; nós mesmos, talvez. Sei lá!
Aquela jovem era uma aborrescente.
Vivia aborrecida com os dilemas que perpassam a etapa natural do desenvolvimento, porque a quem está nela experimenta mudanças no corpo, meninos e meninas, moços e moçoilas, e também na sua capacidade de adquirir conhecimentos e de interagir socialmente.
Retratista.
Que expressão mais antiga, cheirando a naftalina!
Charlotte Elliott, de 18 de março de 1789, podia ser apenas uma protestante, inconformada, do contra. Tinha que ter nascido na época da Revolução Francesa, resmungando pelo fim do absolutismo e pelo soprar dos ventos de um modelo de governar republicano.
Inglesa de Clapham, a filha de um negociante de seda, tinha na sua ancestralidade materna um reverendo.
Aprisionava o que o seu atento olhar fisgava por sua máquina, mais velha que a serra! Nascera com a vocação de contadora de histórias, que dispensava palavras e discursos. As imagens capturadas por sua câmera de mãos lhe davam os argumentos dos fatos em fotos, preparadas para transmitir emoções e comoções.
Sua mente era cômica, fértil para o humor. Era uma coisa puxando a outra para a tornar, novinha, um destaque na sua Inglaterra do comecinho do século XIX.
A sua origem em berço de cristãos não lhe seguia nessa fase em que situações tantas podem e trazem conflitos e cobranças pessoais, interpessoais e com os seus iguais. A sexualidade descarrega o que o corpo produz, produzindo comportamentos e desejos incontroláveis até.
O conservadorismo e elevados valores morais conhecidos e aprendidos em casa se chocavam com os que levavam Charlotte à fama. E quanto mais contestava e fugia da autoridade dos pais, mais se isolava. Sua rebeldia fechava as janelas de seus ouvidos ao que podiam ser aconselhamentos e experiências dos adultos que lhe admiravam, e amavam.
A cruz de Cristo fazia sombra negra em sua alma, quando, na verdade, sua arrogância e autoconfiança exagerada empanavam a sua alegria de viver.
Recorro, nesse andar, a Oscar Wilde, em sua obra-prima ‘O Retrato de Dorian Gray’, que nos narra os sonhos e pesadelos de um jovem, qual a nossa Elliott, de virtudes artísticas extraordinárias, que devia se sentir dona de beleza que inebria, …, mas atemorizada pelo que a idade avançada podia trazer:
“Só há uma coisa no mundo pior do que s ver transformado em alvo de rumores. É não despertar rumor algum”.[i]
A aclamada musa da comédia e das fotografias, em si e para si, tinha uma vida fake, sapecaria um brother desses tempos atuais! Com razão.
O seu narcisismo e a paixão pelo que é passageiro, compostos nos quais escondia a sua autêntica personalidade e renegava sua cultura e tradições, miravam que fosse outra pessoa; esta, feliz, lindamente perfeita e adorada por todos. Uma ‘madona’ por adjetivação e não por substancialidade. Uma pena porque pena.
Chegados os seus trinta anos, uma jovem adulta, portanto, a sua vitalidade cedeu lugar à prostração e repouso forçados. As suas doenças, mais de uma realmente, fizeram da figura eminente da hinologia universal abordada neste texto uma dependente de assistência e cuidados de seus pais, parentes, amigos e profissionais da saúde em todas as suas carências e necessidades. Comer sozinha? Nem isso podia mais. Quanto mais se apresentar para o delírio dos infelizes consumidores das frustrações que ela mesma guardava para despejar em seus versos e risadas de mentira em palcos e ribaltas que se apagavam para a luz do Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo!
A agenda corrida esbarrou-se com a cama, na qual tivera que estar presa por toda a vida. Era a hora do desespero tomar posse de Elliott. Doença não escolhe paciente, impaciente ou não, de qualquer idade e classe.
A depressão havia engolido a sua ansiedade por retornar à sua carreira mundana, em que os seus cachês compravam tudo, menos a recuperação de sua vivacidade. A culpa devia ser de Deus!
Essa é a desculpa que o pecado põe na boca do perdido pecador.
A fé de seus genitores estava abalada, mas não arrasada[ii], aleluia!
7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
A intercessão interminável daqueles seus entes queridos teria a força para obter os favores dos céus. Um anjo visitaria a filha revoltada e, agora, esquecida por seus milhares de fãs. O Senhor Deus estaria com ela sem asas, em sua casa, na pessoa do pastor suíço reformado de 1787, Henri Abraham César Malan:
Malan foi ter com Charlotte e não lhe disse nada de sua religião. Estava cheio do Espírito Divino o suficiente para orar, orar e orar por aquela esquecida no leito de um quarto.
A resposta veio rápida, na segunda visita. Quem passou a procurar alívio, cura, paz e, na verdade, a restauração de sua saúde, confessou que não sabia onde encontraria Deus!
Os registros das obras do Evangelho vão nos contar, pelos escritos de Kenneth Osbeck, que, tendo ouvido e escutado as lamentações da descrente enferma, com compaixão, prescreveu-lhe o elixir da salvação[i]: “você deve vir a Cristo tal como você é, como pecadora, ao Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
É o que temos em ‘Arquivo dos Irmãos’.
Preparada para o baile de gala de sua charmosa cidade, com o seu vestido feito pela melhor das costureiras, estava nua diante do Rei dos Reis, pronta para dançar a valsa dos remidos por Seu Sangue!
O Santo Espírito lhe trouxe arrependimento. Confessou os seus maus caminhos e escolhas. As suas vistas estavam abertas para uma nova vida.
O seu talento e aptidão seriam postos e dedicados exclusivamente para o louvor, a honra e a glória de Jesus.
A debilidade física, nesse momento, não fora capaz de aniquilar a sua inspiração e sensibilidade poética. A alegria de compor para evangelizar vinha como lenitivo de sua paralisia.
Não negociara a cura do corpo com o seu pastor e amigo. Aceitou a Cristo incondicionalmente. A sua fé a salvava espiritualmente.
Que exemplo é esse, amigos e irmãos?
Correspondências, recebidas e encontradas após o seu falecimento, aos oitenta e dois anos, 1871, são o testemunho irrebatível de que o Senhor age como Ele quer. Centenas de almas viram a Cristo por meio dos hinos de Elliott.
Olha ela aqui, bem mocinha[ii]:
A coletânea das produções da homenageada pela ESTAÇÃO GOSPEL de Franca, enquanto frequentado editorial cem por cento evangélico do portal NOTÍCIAS DE FRANCA – a sua Folha, é materializada no Hino 284 da Harpa Cristã, batizado ‘Just As I Am’ (ou Tal Como Estou), do ano de 1835, com a musicalidade do músico William Batchelder Bradbury, americano, que podemos ouvir, em regozijo espiritual, enquanto igreja de Cristo:
Segue a letra sob o título conhecido entre nós, na versão brasileira do Pr. Paulo Leivas Macalão,
BENDITO CRISTO, EIS-ME AQUI:
Tal como sou, vou decidir,
Que a outro eu não posso ir;
Pois me convidas para vir,
Bendito Cristo, eis-me aqui.
Tal como sou, sem demorar,
Do mal, querendo me livrar;
Só podes Tu me perdoar:
Bendito Cristo, eis-me aqui.
Tal como sou, em aflição,
Exposto à morte, e perdição,
Buscando vida e perdão,
Bendito Cristo, eis-me aqui.
Me vence, e busco Teu favor,
Tal como sou, Teu grande amor
Servir-Te quero com valor,
Bendito Cristo, eis-me aqui.
Vai a Ele como és e como tu estás!
Ainda vais continuar a resistir ao chamado para o encontro com o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo?
A paz do Senhor!
por Théo Maia
[i] https://www.terra.com.br/diversao/tv/obsessao-por-fama-e-vida-fake-podem-causar-depressao,8d5969a3c2e812e6b6de2206ee4301fbif3hb884.html
[ii] 2 Co. 4
[iii] https://www.brethrenarchive.org/articles/others/general/charlotte-elliott-s-conversion/
[iv] Veja mais em https://dtbm.org/just-as-i-am/
Excelente texto! Uma história incrível!