Artilheiros vivem situações opostas na decisão do Paulista
Rony teve de aguentar durante meses piadas e provocações porque não conseguia fazer gols com a camisa do Palmeiras. Assim que anotou pela primeira vez, quase sete meses após ser contratado pelo clube alviverde, sentiu-se na obrigação de desmentir os boatos de que tinha problemas psicológicos.
Ao mesmo tempo, Pablo estava em uma batalha para se firmar como titular no ataque do São Paulo. Estava, não. Ainda está.
Eles podem decidir o Campeonato Paulista deste ano. Rony é a referência ofensiva do Palmeiras. Pablo, entre altos e baixos, é o camisa 9 do São Paulo. As duas equipes fazem a segunda partida da decisão estadual neste domingo (23), às 16h, no Morumbi (com transmissão da Globo). Quem vencer fica com o título. Empate leva a definição da final para os pênaltis.
Juntos, eles conquistaram a Copa Sul-Americana pelo Athletico em 2018. Pablo era então um dos centroavantes mais cobiçados do futebol brasileiro. O São Paulo pagou R$ 28,6 milhões para tê-lo. Rony assumiu o protagonismo na equipe paranaense no ano seguinte, no título da Copa do Brasil. Brilhou tanto que o Palmeiras aceitou pagar R$ 28,4 milhões, mas para ter somente 50% dos seus direitos econômicos.
No coletivo e no pessoal, o título tem mais peso para São Paulo e Pablo. O clube não conquista um troféu desde a Copa Sul-Americana de 2012. O Palmeiras é o atual vencedor do Paulista, Libertadores e Copa do Brasil. Nestes dois últimos, Rony foi destaque.
Na temporada de 2021, eles são artilheiros de suas equipes. Cada um fez seis gols.
“Espero que o Palmeiras não o venda. Vou aqui meter pressão na diretoria”, disse o técnico português Abel Ferreira sobre Rony, após triunfo do Palmeiras diante do Independiente del Valle, no Equador, pela Copa Libertadores, há duas semanas.
Um gol na final deste domingo pode ser o início da reviravolta para Pablo no São Paulo. Mais de uma vez ele foi alvo de piadas de torcedores em redes sociais por causa da escassez de gols e pelas várias chances perdidas. Em 81 jogos desde sua estreia, o atacante marcou 21 vezes.
Não que Rony não tenha sofrido algo parecido nos seus meses de seca no Palestra Itália. Uma das brincadeiras mais comuns era que, quando enfim marcasse, ele não poderia comemorar com uma cambalhota, sua marca registrada, porque teria desaprendido pela falta de costume. Contratado em fevereiro de 2020, seu primeiro gol aconteceu no final de setembro, contra o Bolívar, pela Libertadores. Foram 20 partidas de seca.
O que o ajudou, mesmo nos piores momentos de clube, foi seu estilo de jogo, que tem a tendência de agradar aos olhos do torcedor mesmo quando não marca: correr por todas as partes do campo, buscar o jogo e não desistir de nenhum lance.
Por ser um atacante mais fixo, Pablo precisa que a bola chegue para ele em condições de finalizar. Quando sai da área, não tem a mesma velocidade do ex-companheiro de Athletico. Pode até passar a falsa impressão de não se importar ou não sentir a partida. Em um time que vive um jejum de títulos e que se acostumou a ter protestos de torcedores, não é a melhor receita.
Pablo chegou a perder a condição de titular no ano passado para Brenner, revelado pelas categorias de base do clube. Voltou a receber mais oportunidades quando o atacante de 21 anos foi vendido para o Cincinnati FC, dos Estados Unidos.
“O [técnico Hernán] Crespo me dá confiança e coragem desde o primeiro dia. Ele me encoraja a ser o Pablo do Athletico. É para isso que fui contratado e é isso o que esperam de mim”, reconhece o centroavante, lembrando que considera ter sido prejudicado em 2019 por causa de uma cirurgia na coluna, mas consciente da possibilidade de o clube tricolor ir ao mercado por jogadores da posição.
Um já foi contratado. Na última sexta-feira (21), o São Paulo anunciou a aquisição do atacante uruguaio Facundo Milán, 20, do Defensor. O reforço, a princípio, vai atuar pelo sub-20, mas tem características de jogador de área e finalizar, um estilo carente no elenco de Crespo -Vitor Bueno tem atuado como centroavante com o técnico.
Rony também pode ter um novo companheiro ou concorrente em breve. O Al Duhail, do Qatar, não exerceu o direito de compra de Dudu e o atacante deve voltar ao Palmeiras se nova negociação não acontecer. São dois atletas de características parecidas. O atual artilheiro alviverde até herdou a camisa 7.
O Paulista não é o título mais importante que São Paulo e Palmeiras vão disputar na temporada, mas o jogo truncado, tático e cauteloso do primeiro confronto, na última quinta-feira (20), mostrou também que está longe de ser desprezado pelas equipes e por seus artilheiros.
Rony tem mais uma oportunidade para mostrar que, com ou sem Dudu, é indispensável. Pablo pode tirar o São Paulo da fila, colocar seu nome na história e ganhar a confiança da torcida.
SÃO PAULO
Tiago Volpi; Arboleda, Miranda e Léo; Igor Vinicius, Luan, Liziero, Igor Gomes (Luciano), Gabriel Sara e Reinaldo; Pablo. T.: Hernán Crespo
PALMEIRAS
Weverton; Luan, Gustavo Gómez e Renan; Mayke, Felipe Melo, Patrick de Paula, Raphael Veiga e Viña; Rony e Luiz Adriano. T.: Abel Ferreira
Estádio: Estádio do Morumbi, em São Paulo (SP)
Horário: 16h (de Brasília) deste domingo (23)
Árbitro: Raphael Claus