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Um sonho para os 200 anos de Franca

Por Elaíse Marie

Desde quando os indígenas habitavam por aqui não sabemos. O que sabemos remonta ao princípio dos anos 1.700, quando os Bandeirantes paulistas abriram estradas rumo a Minas Gerais e a Goiás, para negociar com os mineiros que extraíam ouro dessas regiões, e nesse caminho encontravam índios valentes e perigosos, indomáveis. Na estrada para Vila Boa de Goiás (assim batizada em 1.750) passavam pela região denominada de Belo Sertão da Estrada dos Goiases, entre os rios Pardo e Grande, exatamente aqui, onde hoje se estabeleceu a cidade de Franca.

A história do espaço urbano de Franca pode ser contada a partir do seu batismo como “Arraial da Franca” em 1805, nome recebido em homenagem ao governador da Capitania de São Paulo – Antônio José da Franca e Horta. Nesse momento o arraial contava com 840 moradores chegados de Minas Gerais por volta de 1801 quando vieram em busca de um lugar onde criar o seu gado, uma vez que o período de mineração estava se encerrando e também fugindo das derramas cobradas pela Capitania de Minas Gerais. Aqui chegavam com suas famílias, agregados e escravos.

Franca completa 197 anos em 2021. No ano de 1824 passou à categoria de vila (o correspondente a “cidade” na época) com o nome de “Vila Franca do Imperador”, quando foi emancipada da comarca de Mogi Mirim a quem respondia administrativamente até então. Por ser momento do Brasil Império recebeu o apodo monarquista, a ser removido após a Proclamação da República, passando então a assinar somente o nome de Franca.

Resedá-Nacional no City Petrópolis

O período de 197 anos pode corresponder a 3 gerações de jabutis, animais que vivem por mais de 100 anos. Por isso escolhi a simpática Jabota Pitanga para contar a história da cidade a partir dos relatos de seu pai e de seu avô em meu livro infantil “Jabota Pitanga e a Paineira” a ser lançado em 2 de dezembro próximo com renda para o Comitê Verdejar do Grupo Mulheres do Brasil – que planta árvores em Franca.

A alteração da área verde nesta região remonta ao momento da criação do arraial. Com o objetivo de viver na Capitania de São Paulo, antes mesmo que as famílias dos Entrantes chegassem, eram enviados os “picadeiros” que abriam caminhos e desmatavam áreas para a formação das fazendas. Aqui as famílias passaram a criar gado e a plantar. O desmatamento que era necessário para as novas atividades agropecuárias, com o passar do tempo foram muito além do que seria considerado bom para um equilíbrio com o meio ambiente e preservação dos mananciais de água.

Ypes

Segundo o Relatório de Qualidade Ambiental 2020 da Secretaria de Infraestrutura e do Meio Ambiente do Estado de São Paulo a região de Franca conta hoje com apenas 10,83% de sua mata nativa, sendo uma das mais devastadas do Estado. Isso favoreceu o fenômeno do “haboob”, ventania de poeira que cobriu a cidade este ano.

A parte urbana da cidade conta com apenas 16% de cobertura arbórea, sendo que para valores abaixo de 20% de cobertura as cidades praticamente não recebem nenhum benefício ambiental da arborização. O Programa Estadual “Município Verde Azul” coloca a meta de atingir 50% de cobertura arbórea para o bem estar dos cidadãos. Muito precisamos plantar para atingir essa meta.

Palmeiras Imperiais em frente à Santa Casa

No último censo de 2010, o IBGE mostra uma população urbana de 98% para Franca. Ocorreu aqui um intenso processo de industrialização em meados do século passado que levou os moradores rurais a buscarem oportunidades na cidade. Em 1950 mais de 50% da população ainda vivia na área rural. A mudança das pessoas para a cidade causou um crescimento urbano muito acelerado, de forma não programada. Arborização certamente não foi prioridade nesse momento.

Atualmente se conhece a importância de termos árvores GRANDES numa cidade, que façam sombra no asfalto e no concreto. O asfalto e o concreto são os responsáveis pelas ilhas de calor e sua cobertura com árvores, além de aliviar a temperatura e aumentar a umidade do ar altera favoravelmente o microclima local e também permite a ampliação da vida útil do asfalto e dos edifícios por até 10 anos. A presença de árvores com seus espaços de solo permeável ajuda a evitar as enchentes que causam prejuízos e algumas vezes a perda de vidas, além de permitir o retorno da água da chuva para os lençóis freáticos.

Jequitibá Rosa na Escola Barão de Franca

Existem lugares no mundo onde o plantio e manutenção de árvores é considerado como prevenção de doenças e incluído nas verbas da Secretaria de Saúde. O convívio com áreas verdes reduz o estresse das pessoas e com isso protege da população de muitas doenças cardiovasculares, além de proteger fortemente de doenças mentais, problema que hoje está em evidência com a pandemia.

Os eventos climáticos extremos causados pelo aquecimento global estão se tornando cada vez mais frequentes e as árvores, que acumulam carbono em seus troncos, removem CO2 (gás de efeito estufa) da atmosfera. A cada 7 árvores plantadas são removidos da atmosfera 1.000 kg de CO2 por ano. Existe até mesmo uma proposta de plantio de 1 bilhão de árvores no planeta para mitigar o aquecimento global. Não temos tempo a perder, estamos vivendo uma emergência climática. Plantar é uma das atividades que ajuda a evitar o aquecimento global.

Figueiras na Vila Maria Rosa

Frente aos conhecimentos que temos hoje precisamos seguir no caminho da melhor construção coletiva. Em outros 100 ou 200 anos seremos avaliados por nossos descendentes pelo que realizarmos agora. Qual será o nosso legado?

Mas estamos em festa, é o aniversário de nossa cidade. E também temos motivos para comemorar. O Comitê Verdejar do Grupo Mulheres do Brasil terá plantado aproximadamente 8.000 árvores até o final deste ano. Também temos na cidade 9 árvores protegidas do corte, árvores maravilhosas, históricas, únicas, em risco de extinção ou centenárias e que simbolizam, cada uma delas, nosso respeito pela natureza.

Buriti na Praça dos Angicos

Este espaço geográfico onde escolhemos viver é a nossa casa coletiva. Franca precisa de nossos cuidados para que todos possam viver melhor. Plantar e cuidar das árvores e das áreas verdes é fundamental para termos uma vida de qualidade. A compreensão da importância das florestas urbanas vai nos permitir uma conexão melhor com a natureza, com a vida, com o futuro do planeta.

Eu gostaria de propor aqui um sonhar coletivo para o aniversário dos 200 anos da cidade a ser comemorado em 2024. O desejo de uma cidade com mais árvores representado no sonho de um parque verde muito arborizado para atividades ao ar livre, caminhadas, esportes, lazer, cultura e convívio da população. Vamos sonhar juntos? Lembrando que “sonho que se sonha junto é realidade”.

Livro Jabota Pitanga e a paineira da autora Elaíse Marie

5 Comentários

  1. Parabéns Elaise Marie pelo brilhante relato histórico da nossa cidade aniversariante! Salve Salve Franca do Imperador!
    LUZ e Caminhos…e assim, celebraremos em breve os 200 anos.
    Parabéns Franca, cidade hospitaleira. Parabens Elaise Marie, forasteira que aqui chegou, foi acolhida e se apaixonou pelo lugar constituindo aqui a sua familia!
    Parabéns Elaise Marie…estaremos juntas para o lançamento da sua mais recente obra tao bem escrita Jabota Pitanga e a Paineira! Fiquei emocionada! Doação total para o plantio e cuidados para com as arvores da cidade. Bem dito Seja…🙏
    Vamos brindar
    🍾Tim🥂Tim
    Vamos celebrar
    💚🤩🥳👏🏼💓👍🙋‍♀️💃🏻🇧🇷

  2. Salve Franca cidade querida! Que seus governantes e nós população te façamos realizado o seu sonho Elaise! Parabéns pelas reflexões no texto!

  3. Parabéns Elaine. Eu como você, também fui forasteiro vindo de São José do Rio Preto. Agora com muito orgulho, depois de 37 anos me sinto filho dessa abençoada cidade. Deus abençoe todos os nossos irmãos francanos.

  4. Parabéns Elaíse, excelente texto, e apoio sua sugestão, inclusive sugerindo um local para esse parque. Nos fundos do bairro Conceição Leite, há um grande terreno público, inclusive com uma nascente no local que pode virar um parque.

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