Novos empreendedores abrem negócios direto no online
Por Joelma Ospedal com Folhapress
A busca por eficiência operacional e a crescente demanda online também começam a impactar os pequenos negócios. De um lado, enquanto as grandes empresas do varejo aproveitam o maior engajamento de seus clientes em suas plataformas digitais para crescer suas estruturas, pequenos empresários precisam fazer uma escolha. Ou tentam equilibrar as contas fixas de um ponto comercial com horário restrito de funcionamento e que não dá o mesmo lucro pré-pandemia ou voltam seus esforços para migrar as operações completamente para o online. E, diante desse cenário, cresce cada vez mais o número de novos empreendedores que abrem seus negócios direto no online.
É o caso das irmãs Bruna Carolini Silva Coelho, 21 anos, e Nina Maranha Coelho, 18 . As duas são apaixonadas por moda e decidiram abrir uma loja. “Por sermos filhas de mães diferentes, nosso pai sempre quis unir mais os filhos. E, no ano passado, ele teve essa ideia de montarmos um negócio juntas. Amamos a ideia e já começamos a colocar em prática no mesmo dia!”, disse Nina. “Percebemos que, por conta da pandemia, a quantidade de lojas online aumentou muito e, como sempre acompanhamos blogueiras e influencers, acabamos indo para esse lado também”, disse Bruna. Foi assim que nasceu a BNSorelle (nome que leva as iniciais das duas e a palavra italiana sorelle, que significa ‘irmãs’). “Vendemos roupas femininas e atendemos todas as faixas etárias e nossa maior preocupação é oferecermos peças de qualidade e que estão em alta no mundo da moda”, completou Bruna.
Segundo o diretor-superintendente do Sebrae São Paulo, Wilson Poit, parte do movimento visto nas pequenas empresas tem sido impulsionada pela necessidade de redução de custos. “Muitos empreendedores já perceberam os novos hábitos do consumidor, mais voltado para as plataformas online, e combinam isso com o corte de gastos. Quem consegue trabalhar de casa ou de portas fechadas focou o delivery e aprendeu a vender pelo digital. E, para os que entram no mercado agora, começar direto no online é ainda mais natural”, afirmou o executivo.
“Aprender a vender no digital”, como mencionou Poit, é fundamental. E Bruna dá a dica: “É importante pesquisar e estudar bastante, porque a internet tem macetes que ajudam muito nesse início. Tem que ter muito foco e saber que nem sempre o começo é fácil, mas não pode desistir”. O planejamento é outra dica importante que as jovens empreendedoras destacam. “Planejamos as postagens e divulgações que vão para o Instagram no final de semana, para que tenhamos rumo e material pronto e bem feito para ir soltando conforme os dias vão passando”, disse Nina.
Segundo Poit, o Sebrae triplicou a quantidade de atendimentos para mentoria de empreendedores na pandemia. A troca das lojas físicas pelas compras online se traduz em números. Levantamento do Mastercard SpendingPulse apontou que as vendas no varejo em lojas físicas caíram 4,4% no primeiro trimestre ante igual período de 2020. Em março, a queda foi de 7% na mesma base de comparação. O Mastercard SpendingPulse é um indicador de vendas no varejo em todos os tipos de pagamento em certos mercados globais.
Vendas crescem no online
Ao mesmo tempo, as vendas no ecommerce avançaram 91,6% no período. Em março, a alta foi de 84,7%. “O comércio online conquistou espaços tanto em relação às pequenas quanto às grandes empresas. Uma coisa que já conseguimos prever é que pelo menos 20% das migrações que vimos para o ecommerce são permanentes”, disse o gerente-geral da Mastercard Brasil, Estanislau Bassols.
Julia Rettmann e Denise Yui, ambas de 34 anos, fizeram parte desse movimento e optaram por migrar a Selvvva, marca voltada para decoração com plantas em jardins urbanos, completamente para o online. Segundo as empresárias, a decisão de migrar todas as operações para o online demandou diversas adaptações. “Foi um processo de adaptação para a equipe inteira. Tivemos que procurar ferramentas que nos ajudassem tanto no atendimento a distância quanto na parte de logística (para a entrega dos produtos). Organizamos o atendimento via WhatsApp e fomos atrás de um novo sistema. Tudo ainda está em aperfeiçoamento”, afirmou Yui. A Selvvva, que existe desde 2014, migrou completamente para o online em meados de maio de 2020.
O mesmo aconteceu com as sócias Flavia Calventino Vilarinho e Milena Vedan, ambas de 37 e que têm uma agência de viagens voltada para o setor corporativo, a Celebridade Viagens. O segmento de turismo foi um dos mais afetados pela pandemia. “É um trabalho complexo. Para ter uma ideia, temos viagens emitidas em 2019 que a pessoa ainda não conseguiu voar. Não estamos tendo ganho nenhum. E, quando a pandemia se agravou, (a migração para o online) acabou sendo uma decisão por diminuir custos com o aluguel e com o espaço físico”, afirmou Vilarinho.
Para a empresária carioca Raíssa Colela, 36, que tem uma marca de acessórios e calçados chamada Cura, a migração para o online, que começou como uma forma de sobrevivência à pandemia, é, agora, sua principal forma de faturamento. “Hoje, a Cura sou eu, um contador e um motoboy. A maior parte das vendas que faço é voltada para o atacado internacional e é esse segmento que tenho focado. O faturamento das vendas pelo ecommerce, que antes correspondiam a 20% das minhas vendas, hoje já está perto de 80% do que eu tinha antes da pandemia. Por isso, se as coisas melhorarem, penso mais em ter uma loja pop-up [temporária] do que uma física fixa.”
Modelo híbrido
O movimento também acompanha a adoção de um modelo híbrido de trabalho. Segundo Poit, a expectativa é que cada vez mais empresários se ajustem às plataformas de venda online e que novos entrantes já abram seus negócios no meio digital. “O jeito de trabalhar nunca mais vai ser o mesmo, mesmo quando falamos de padarias, açougues, hortifrútis. A tendência é de lojas híbridas e de um maior futuro tecnológico no trabalho”, afirmou.
As sócias Mayra Reis, 36, e Luciana Tanoue, 37, também fazem parte das empresárias que optaram por já abrir as portas apenas no ambiente digital. Segundo Reis, a ideia do Cuida-te Terapias Holísticas e Integrativas veio em 2019, mas foi só depois de um planejamento de dez meses que sua criação efetiva começou a acontecer. “Até janeiro de 2020, o Cuida-te teria atendimentos presenciais e online, além de feiras mensais voltadas para a saúde mental. Chegamos a ver uma casa para alugar, mas acabou não dando certo, e pouco tempo depois veio a pandemia. Decidimos, então, optar por dar continuidade ao lançamento da empresa apenas com os atendimentos online. Mas, futuramente, talvez adotemos um espaço físico”, disse Luciana.