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Putin reforça ocidentefobia e diz que navio britânico poderia ser afundado sem gerar 3ª Guerra

Uma semana após disparar tiros de advertência contra um navio militar britânico na costa da Crimeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, descarregou um discurso bélico contra forças ocidentais em sua conversa anual com eleitores nesta quarta-feira (30) -a primeira desde o início da pandemia de Covid e a 18ª do mandatário.

Na última semana, as tensões entre Londres e Moscou cresceram com a entrada do destróier HMS Defender na costa da Crimeia, na última quarta (23). Para os britânicos, as águas onde o navio navegava pertencem à Ucrânia, mas para a Rússia, que anexou a península em 2014, a região é território seu, e Moscou viu a invasão, que Putin disse ter sido planejada por Reino Unido e EUA, como uma provocação.

Um barco da Guarda Costeira russa deu tiros de advertência contra o navio, além de avisar pelo rádio que faria isso se ele não mudasse o curso. De forma ainda mais agressiva, caças-bombardeiros Sukhoi Su-24 cercaram o Defender e, segundo a Rússia, quatro bombas foram jogadas à frente de sua rota. Londres nega essa parte do relato.

Para Putin, no entanto, um dos mais graves incidentes entre forças russas e ocidentais desde a Guerra Fria não levaria o mundo a uma Terceira Guerra. “Mesmo que tivéssemos afundado o navio, é difícil imaginar que o mundo ficaria à beira da Terceira Guerra Mundial porque aqueles que estavam fazendo [as provocações] sabem que eles não poderiam sair vitoriosos de tal conflito.”

Os comentários reforçaram a ameaça já feita pelo Kremlin de que Moscou bombearia navios britânicos no mar Negro se houvesse mais provocações.

Putin disse que a ação foi desenhada para revelar como as forças russas na região reagiriam a tais intrusões e que um avião espião americano teria decolado da Grécia mais cedo naquele dia para observar as movimentações.

“Ficou claro que o destróier entrou [na costa da Crimeia] buscando, primeiramente, objetivos militares, tentando usar o avião espião para ver como nossas forças interromperiam tais provocações, para observar o que está ativado e onde, como as coisas funcionariam e onde tudo está localizado.”

O presidente também falou que a Rússia descobriu qual era o objetivo do exercício e respondeu de forma que apenas as informações consideradas necessárias por Moscou foram fornecidas para o Ocidente. Putin disse ainda ter visto um elemento político no incidente, ocorrido pouco tempo depois de ter se encontrado com o presidente americano, Joe Biden, em Genebra.

“A reunião em Genebra tinha acabado de acontecer, então por que essa provocação foi necessária, qual era o objetivo? Para ressaltar que aquelas pessoas [americanos e britânicos] não respeitam a escolha da Crimeia de fazer parte da Federação Rusa”, afirmou.

Putin acusou ainda Londres e Washington de falta de gratidão ao dizer que, mais cedo neste ano, ordenou que as forças russas se retirassem da fronteira com a Ucrânia em abril, quando o presidente havia concentrado tropas na região e fechado áreas do mar Negro para pressionar Kiev a não agir contra os separatistas, como movimentações militares indicavam. O episódio elevou as tensões com ocidentais.

“Nós fizemos isso”, disse nesta quarta. “Mas em vez de reagir positivamente dizendo ‘ok, entendemos sua resposta às nossas queixas’, o que eles fizeram? Eles invadiram nossas fronteiras.”

Especificamente sobre as relações com os americanos, Putin disse esperar que “a percepção de que o mundo está mudando, assim como a necessidade de rever nossas prioridades e interesses nesse mundo oscilante, vai levar a uma ordem mundial melhor para nossas relações [internacionais], incluindo os EUA”.

Já sobre a Ucrânia, no centro das tensões da última semana, o presidente russo disse que não via por que deveria se reunir com Volodimir Zelenski, mandatário do país vizinho, afirmando que “ele entregou o país ao controle externo total”.

“Questões vitais para a Ucrânia não são resolvidas em Kiev, mas em Washington e parcialmente em Berlim e Paris. O que há para discutir?”, afirmou. “Não estou negando [uma reunião], só preciso entender sobre o que conversar.”

Outros assuntos tratados na conversa incluíram sua sucessão e a situação da vacinação contra a Covid no país. Com mudanças constitucionais aprovadas em referendo no ano passado, Putin pode permanecer no poder até 2036 –ele se tornou premiê pela primeira vez em 1999 e, de lá para cá, foram quatro mandatos presidenciais, além do período como primeiro-ministro de Dmitri Medvedev.

Após todo esse tempo no poder, o presidente russo disse não ver ainda um sucessor. “Quando o momento chegar, espero poder dizer que tal ou tal pessoa, em minha opinião, é digna de liderar um país tão maravilhoso como a nossa mãe Rússia.”

E apesar da repressão contra opositores, ele afirmou que a decisão de quem deve comandar o país cabe, em última análise, aos cidadãos. “Eles exercem sua liberdade de escolha por meio do voto secreto direto. Esse é o único jeito.”

Já sobre a Covid, Putin direcionou seu discurso para incentivar a população a se vacinar, apesar de se posicionar contra a imunização obrigatória. A variante delta, identificada na Índia, tem gerado forte preocupação na Rússia, que viu sua maior média móvel de mortes nesta terça (29), com 590 óbitos registrados, e o número de casos também está em alta, com média móvel de infecções de 20 mil também nesta terça.

Autoridades também atribuem o crescimento à vacinação lenta. Apesar de ter largado na frente com o polêmico desenvolvimento da Sputnik V, a Rússia aplicou a primeira dose em 15,2% dos seus 144 milhões de habitantes, e as duas, em 11,7%.

Como incentivo, Putin garantiu ter se vacinado com a Sputnik V e disse que os militares têm recebido o mesmo imunizante. “Depois da primeira dose, não senti nada. Cerca de quatro horas depois, havia um pouco de sensibilidade no local de aplicação”, relatou. “Tomei a segunda [dose] ao meio-dia. À meia-noite, medi minha temperatura. Estava 37,2°C. Dormi, acordei, e minha temperatura estava 36,6°C. Foi isso.”

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