Opiniões

Trump taxou o Brasil?

Lula mandou a fatura. E a oposição carimbou.

Lula mandou a fatura.

E a oposição carimbou.

Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exatamente dois dias após a XVII Cúpula do BRICS em São Paulo. Coincidência? Pode ser. Mas no xadrez da geopolítica, coincidências têm o peso de uma peça sacrificada de propósito. E se há um culpado por esse xeque tarifário, não é só o bilionário de topete exagerado — é também o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que decidiu subir ao palco internacional fazendo pose de líder multipolar, enquanto batia de frente com os EUA e beijava a mão da China.

O Brasil virou alvo — não só pela boca de Trump, mas pelo apetite estratégico de Lula. E a cereja da desgraça é: a oposição bolsonarista, tão empenhada em gritar “ditadura” a cada passo do STF, acabou reforçando a retórica do próprio Lula e entregando a ele um presente político em plena crise.

Durante os dias 6 e 7 de julho de 2025, Lula sediou com pompa e propaganda a XVII Cúpula do BRICS, em solo nacional, reforçando bandeiras que os EUA acompanham com olhos semicerrados há anos. Não bastasse a tradicional agenda antiocidental que permeia parte do bloco (sobretudo nas bocas de Rússia e China), Lula resolveu ir além: defendeu publicamente a desdolarização do comércio global — um eufemismo técnico para “vamos parar de depender da moeda americana”. Em pleno quintal do Tio Sam.

Dois dias depois: Trump taxa o Brasil. Uma tarifa punitiva de 50%. Sem muito rodeio, sem muito aviso. Vale lembrar que também colocou o México e União Europeia na mesma berlinda, mas com tarifas de 30%. O Brasil, isoladamente, levou a pior. Seria uma resposta econômica ao risco de dumping? Duvido. Trump nunca precisou de um argumento econômico sólido para atacar adversários geopolíticos. Ele só precisa de um pretexto. E Lula entregou de bandeja.

É aqui que entra a ironia: Lula faz pose de estadista, aproxima o país da China — principal rival estratégico dos EUA — e acha que isso virá sem custo. Esquece que os EUA, goste-se ou não, ainda são o ator mais poderoso no hemisfério. E esquece também que o Brasil, embora tente ensaiar voos maiores, ainda é economicamente dependente do mercado americano em várias cadeias produtivas.

O problema não está em conversar com os BRICS. O problema está em agir como se os EUA fossem irrelevantes — ou pior, como se o Brasil pudesse confrontá-los diretamente e sair ileso. Lula não está jogando xadrez. Está jogando pôquer com cartas marcadas contra um adversário que inventou o jogo.

E enquanto isso, a oposição bolsonarista, em vez de cobrar com inteligência a postura geopolítica arriscada do governo, preferiu embarcar em sua já tradicional paranoia: Trump é um herói, um libertador, um enviado divino contra a “ditadura do STF”. Chegou ao ponto de sugerir que a tarifa de Trump era, na verdade, um gesto de amor ao povo brasileiro, um alerta contra a tirania comuno-esquerdista. Sim, a oposição brasileira teve a coragem de dizer que uma tarifa de 50% imposta pelos EUA ao Brasil é, de alguma forma, um favor.

Esse tipo de raciocínio — ou a falta dele — é o que permite a Lula sair como herói nacional. Sua popularidade, segundo a pesquisa Genial/Quaest, deu um salto justamente na semana do embate com Trump. A narrativa do “presidente que enfrenta os EUA em nome da soberania nacional” caiu como um presente dos céus para um governo que vinha derretendo em números e enfrentando críticas por todos os lados.

É surreal, mas a oposição conseguiu — mais uma vez — reforçar o inimigo que diz combater. Ao endeusar Trump, deram munição para o discurso nacionalista de Lula. Ao defender uma tarifa punitiva como um ato de benevolência americana, fizeram o presidente parecer o único adulto na sala, o único disposto a defender os interesses brasileiros.

E pior: não só ajudaram Lula, como fortaleceram Alexandre de Moraes, o “demônio” favorito da direita. Ao preferirem a fantasia de que Trump está salvando o Brasil de uma ditadura, ao invés de apontar as fragilidades reais da política externa de Lula, entregaram de novo à corte do STF o papel de árbitro entre a razão e o delírio.

O Brasil virou peão num jogo entre gigantes — e não precisava ser assim. O problema não é querer autonomia internacional ou discutir a hegemonia do dólar. O problema é agir como se não houvesse consequências. Lula provocou o império e colheu a resposta. Trump não é sutil. Mas o erro maior talvez nem seja dele. O erro maior foi achar que o Brasil poderia brincar de grandeza sem estratégia, e que os EUA ficariam assistindo calados.

E a oposição? Ao invés de denunciar com seriedade os erros do governo, preferiu construir mais uma teoria conspiratória conveniente. O resultado? Fortaleceu Lula. Fortaleceu o STF. E ainda tornou Trump — o mesmo Trump que negocia com ditaduras de verdade — um herói fictício da democracia brasileira. No fim, Lula mandou a fatura com sua política externa caótica. Trump taxou. E a oposição — com sua genialidade habitual — ainda carimbou o envelope.

Dr. João Pedro Cardoso

Advogado especialista em direito de família e fraudes bancárias (OAB - SP 498.908); coordenador do Núcleo Municipal do MBL (Movimento Brasil Livre) em Franca (SP).

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