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Um minuto de silêncio

A VIDA passa ruidosa, turbulenta, correnteza de paixões, palavras, porcarias, panaceias, publicações, publicidades, perigos, pânicos, percepções, parlamentos, pelejas, pontuações. 

Passa passa gavião, todo mundo passa…

A vida se interrompe, irrompe, irrequieta, interestelar, interativa, imperativa, inescapável, infinita, inconciliável, irremediável, imersa em uma corrente inescrutável.

Indecidível.

Na sua infinitude, a vida escapa do logaritmo do computador, que,  binariamente, responde “sim ou não”, e o caminho da decisão não se faz. Complexa vida, indefinível.

Humanos, vivemos nas fronteiras da decidibilidade. Computador, por mais complexo, não algoritma a vida; ela escapa a conceitos, regras; propõe caminhos, encruzilhadas, paralelas que não se cruzam, sem pontes.   

Mistérios campeiam hoje minha alma: separar caminhos se tornam passagens para o que não sei, não saberei, até cursar o caminho que ora decido, ora sou levada, impotente, a conhecer. Quantas vezes percorri caminhos não escolhidos, levados pelas decisões de quem amei. Quantas vezes mudei minha rota planejada, pela necessidade de estar junto de quem escolhi amar.  Decidi, à minha própria revelia.

A vida dá muitas cambalhotas: exige flexibilidade para viver o porvir. Permanente, eternamente, Desconhecido.

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

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