ColunasFilmes & Livros

Ciscando Aventuras

FILME:  A lista de Schindler

(drama histórico norte-americano, 1993, direção: Steven Spielberg, 195 minutos).

 Baseado no romance de 1982, Schindler’s Ark, do romancista australiano Thomas Keneally.  Oskar Schindler, empresário alemão dos Sudetos, junto com sua esposa Emilie Schindler, salvou mais de mil refugiados judeus holandeses do Holocausto, principalmente poloneses, empregando-os em suas fábricas durante a Segunda Guerra Mundial. É estrelado por Liam Neelson como Schindler, Ben Kingsley como o contador judeu de Schindler Itzhak Stern e Ralph Fiennes como o oficial da SS Amon Göth.

Poldek Pfefferberg, um dos Schindlerjuden, assumiu a missão de contar a história de Schindler. Spielberg ficou interessado quando o executivo Sidney Sheinberg enviou a ele uma resenha sobre a Schindler’s Ark. A Universal Pictures comprou os direitos do romance, mas Spielberg, sem saber se estava pronto para fazer um filme sobre o Holocausto, tentou passar o projeto para vários diretores antes de decidir dirigi-lo.

Filmado em Cracóvia, Polônia, durante 72 dias em 1993, em preto e branco, Spielberg abordou o filme como um documentário. O diretor de fotografia Janusz Kamiński queria criar uma sensação de atemporalidade.

Frequentemente listado entre os melhores filmes, recebeu elogios da crítica internacional. Pelas performances e pela  atmosfera criada. Foi sucesso de bilheteria.

Indicado a doze Oscars, vencendo sete, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor (Spielberg).   Em 2007, o American Film Institute elegeu Schindler’s List como o oitavo melhor filme americano da história. O filme foi designado como “cultural, histórico ou esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso em 2004 e selecionado para preservação no National Film Registry.

POR QUE GOSTEI:  ao longo da história da humanidade, vemos desfilar horrores, crueldades, guerras injustificáveis, pelas mortes,  torturas, estupros de mulheres, morticínio de crianças,  excesso de paixões. Em momentos extremos, como estes, no entanto, vemos brilhar seres que enfrentam, corajosamente, grandes perigos e demonstram nobres sentimentos, como a Compaixão, a Solidariedade.  Estes seres, não raro anônimos, colocam um valor alto de uma só vida.  Ao final deste filme – Schindler, que lucrou com a guerra, em 1945, tem medo do futuro.  Afinal, ele teria que enfrentar o julgamento do Exército Vermelho, dos Aliados contra os nazistas, Schindler pertencia ao Partido Nazista. Mas seus trabalhadores, judeus salvos das execuções dos nazistas, não o consideram criminoso.  E lhe entregam uma carta, junto com um anel com uma citação do Talmude: “Aquele que salva uma vida salva o mundo inteiro”. Schindler fica tocado, profundamente envergonhado, achando que poderia ter feito mais para salvar mais vidas. Uma figura que se redime, em meio a tanta barbárie. 

Imagens coloridas, a contrastar com o branco-preto desta epopeia, mostram os Judeus de Schindler no presente, no túmulo de Schindler em Jerusalém (onde ele quis ser enterrado).  Cada um colocando uma pedra em sua lápide—um tradicional costume judeu de indicar agradecimentos a alguém falecido. Os atores que interpretaram os personagens principais caminham de mãos dadas com a pessoa real interpretada, colocando suas pedras enquanto passam por seu túmulo.  Liam Neeson (apesar de não ser visível) coloca um par de rosas na lápide: cena final.

LIVRO: Ensaios

(de Michel de Montaigne (1533-1592), tradução Rosa Freire d´Aguiar,  Ed. Companhia das Letras, 2010).

Não há uma edição definitiva desta obra. Existem várias, inclusive na coleção Os Pensadores.

Ensaios (Essais em francês) é uma coletânea de obras escritas pelo francês Michel de Montaigne (1533-1592), publicada pela primeira vez em 1580. Foi pioneira no gênero literário ensaio.

Montaigne não tinha a intenção de inaugurar um gênero literário e nem o objetivo direto de escrever uma série de três livros, não fazia ideia de que,  a princípio, a estrutura de sua obra seria um fator de grande interesse ao leitor, e não exatamente o seu conteúdo – que consiste em relatos de experiências de sua vida. Diversos assuntos são expostos, sem ordem aparente: medicina, livros, assuntos domésticos, doença, morte, dor, sabedoria, solidão filosófica etc.

Montaigne via a filosofia como um “modo de vida”. Uma das principais características da obra são os seus feitos diários – coisas do dia-a-dia. Autores modernos apelidaram os Ensaios como uma “auto escrita”: “um exercício ético para “fortalecer e esclarecer” o próprio julgamento do autor, tanto quanto o de nós leitores.

Montaigne sofreu a perda de um grande amigo – La Boétie, com quem partilhava muitas ideias. Declarou que os Ensaios eram  a extensão de diálogos com o amigo perdido…  maneira de lidar com sua ausência, manter viva a amizade.  Chico Buarque reproduz, numa canção, uma frase de Montaigne que homenageia o amigo La Boétie, no valor desta amizade: “porque era ele, porque era eu”.

POR QUE GOSTEI:  releio continuamente um ou outro destes ensaios. Gosto também de “ensaiar”: literatura que deixa livre o autor para poetar, fazer digressões. Cabe no gênero ensaio filosofia, psicologia, psicanálise, antropologia, observações e revela a personalidade de quem escreve.  Montaigne esbanja  sabedoria, por séculos.  Sean Penn quando preso, quis levar apenas este livro para a prisão. Como aprecio a inteligência deste ator, despertou minha curiosidade. Foi um tesouro descoberto. Gratidão.

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo